"A Cebola", a bolha e dólar frito Vinicius Torres Freire
Política

"A Cebola", a bolha e dólar frito Vinicius Torres Freire


FOLHA DE S. PAULO

Regulador americano chamou de "bolha" a explosão de preços de commodities de 2008; algo parecido está ocorrendo agora

"A CEBOLA" , ou "The Onion", em inglês, é um site de humor popular entre gente de universidade, imprensa e "nerds" nos EUA. Em forma de jornal sério, imita sarcasticamente o noticiário regular da mídia. Caricatura nossos clichês (de nós, jornalistas) e a torrente de estudos econômicos que "provam" isso ou aquilo. Manchete do "Onion" já deu que o "custo de vida supera o benefício de viver, revela estudo estatístico" ("Life isn"t worth living" era um comentário da matéria). Em julho de 2008, o "Onion" manchetava: "Nação devastada pela recessão exige outra bolha na qual possa investir". Na época, o governo Bush ainda esperava "recuperação no fim do ano".

A recessão só foi declarada "oficialmente" em dezembro de 2008 pelo NBER, o comitê americano de economistas que faz a datação das recessões (é o "comitê do carbono-14", método de datação de objetos arqueológicos ou paleontológicos, tal o atraso com que o NBER anuncia recessões). O "Onion" deu, pois, um "furo". Os americanos ainda não foram agraciados com uma nova bolha, mas um zunzum intenso continua a inflar pelo menos a bolha de notícias sobre a bexiga financeira das commodities, soprada dos EUA.

No caso de açúcar e soja, por exemplo, os preços foram inflados por problemas em países produtores. No mais, porém, o movimento é gerado pelo "otimismo" com a economia e pela desconfiança do dólar.

Investidores vendem títulos de longo prazo dos EUA, bancos centrais compram mais títulos curtos; os juros de longo prazo sobem. Liquidam-se posições em dólar, que perde valor. Há dólares sobrantes, cortesia do Fed, mas não há consumo ou investimento. Os investidores que saem de ativos americanos "seguros" investem em commodities. E cá estamos numa situação parecida com a da bolha de meados de 2008, chamada ontem literalmente de bolha até pelo regulador do mercado de futuros de commodities nos EUA. Foi a bolha do Bovespa a 70 mil pontos e do real a R$ 1,50. Sim, toda essa história de juros e moeda dos EUA nos atinge diretamente.

Para ajudar a desconfiança em títulos americanos e no dólar, a expectativa de inflação nos EUA voltou ontem ao nível de setembro de 2008, AC (antes do colapso). É uma expectativa de nada, 2% no médio prazo. Mas faz pouco o medo era de deflação; a expectativa de inflação de médio prazo era ZERO em dezembro. Paul Krugman, o Nobel da moda, escarnece da ideia de medo de inflação nos EUA. Mas juros de títulos americanos longos sobem, o petróleo morde a cotação de US$ 70 o barril (o dobro de fevereiro), o ouro ameaça voltar a US$ 1.000 a onça, e as moedas commodities (de países produtores) se valorizam.

As maiores Bolsas do mundo ainda estão a uns 30% do pico da loucura de 2008. Tudo bem, mas há indícios de que as indústrias de EUA, Europa e Japão ainda estavam encolhendo em maio. Gente vivida dos mercados de moedas, commodities e juros avalia que os investidores se comportam como se o mundo estivesse à beira de voltar ao "business as usual" de antes da explosão da crise. Gente vivida na análise da economia real diz que tal retorno será lento, com pedras no caminho.

É bolha ou não é?



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