25 de Abril. A história de uma revista cultural. Da "arte, progresso e desenvolvimento" para o anti-revisionismo, classe operária e revolução
Política

25 de Abril. A história de uma revista cultural. Da "arte, progresso e desenvolvimento" para o anti-revisionismo, classe operária e revolução


“É assim que, publicando um conjunto de textos do MRPP, o nosso objectivo não é dar uma visão de conjunto da revolução portuguesa, mas sim apresentar um elemento dessa revolução, um sistema coerente de pontos de referência para uma questão-chave, que põem todos os marxistas europeus: o que é hoje a luta em duas frentes, por um lado contra a burguesia monopolista pró-americana, por outro lado, contra a burguesia burocrática de Estado e a sua expressão politica (o Revisionismo). Nas condições concretas da revolução portuguesa, os textos do MRPP são reveladores porque a questão do Poder está na ordem do dia, desdobram no tempo os elementos de uma tentativa de resposta a essa questão; e podemos avaliar a amplitude do problema, a sua dificuldade própria, a força ou o limite, de tal ou tal resposta à nossa interpretação da História” (Alain Badiou e Sylvain Lazarus, pela Editora Maspéro, 1976)

Nos anos sessenta, um senhor Claude Julien publicou, em França, um livro sobre o imperialismo americano, no qual apresentava a lista das associações que recebiam fundos da C.I.A. O Senado americano tomou posição a propósito dessa lista e confirmou que algumas dessas associações eram realmente financiadas pelos Estados Unidos, mas outras não. Entre as primeiras estava a Associação Europeia para a Liberdade da Cultura, financiada pela Fundação Ford, a mesma que financia a C.I.A. Por sua vez, essa associação financiava a Associação Portuguesa para a Liberdade da Cultura, cuja sede se encontrava em Lisboa, na Livraria Moraes, onde também era editado “O Tempo e o Modo” dessa época, que pertencia igualmente aos mesmos associados. Pertenciam a “O Tempo e o Modo” quase todos os principais dirigentes que vieram a participar no 1º Governo pós 25 de Abril, à excepção de Cunhal.

Quando o livro de Claude Julien denunciou essas ligações da C.I.A. com diversas associações culturais, tudo o que havia de bom em “O Tempo e o Modo” empreendeu uma luta exemplar para expulsar os indivíduos suspeitos de terem recebido fundos da Associação Portuguesa para a Liberdade da Cultura. Entre os que tinham podido “beneficiar” da ajuda da C.I.A. encontravam-se alguns personagens interessantes, por exemplo o escritor José Cardoso Pires, sub director do Diário de Lisboa; Fernando Lopes Graça pelos discos que tinha feito em comum com Giacometi; e toda uma série de outras personalidades (Alçada Baptista, Bénard da Costa) que, com pleno conhecimento ou não, eram assim financiados. A parte sã dos redactores de “O Tempo e o Modo” expulsou imediatamente a camarilha revisionista, que tinha até então recebido fundos dessa natureza, e tomou a direcção da revista. E qual não foi o seu espanto quando viram posteriormante o jornal “Avante”, cujos militantes tinham aproveitado durante tanto tempo aqueles subsídios, acusar “O Tempo e o Modo” de ser financiado pela C.I.A.
(in “O Compasso do Tempo, o MRPP” de Judith Balso, 1976)
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