A maioria dos empregados vem de faculdades particulares
Política

A maioria dos empregados vem de faculdades particulares


Voltadas para o mercado

As universidades particulares já educam
a esmagadora maioria dos jovens contratados
pelas empresas brasileiras


Marcos Todeschini

Oscar Cabral

Da aula para o emprego
O economista carioca Fábio Fonseca arranjou emprego num banco antes mesmo da formatura: foi um professor da faculdade que o ajudou a chegar lá


As empresas no Brasil passaram décadas usando um mesmo critério para enxugar as pilhas de currículo acumuladas nos departamentos de recursos humanos: na dúvida entre dois candidatos, ficavam com o que vinha da universidade pública. O quadro começou a mudar nos últimos dez anos, com o aparecimento de centenas de faculdades particulares que despejam milhares de jovens no mercado de trabalho. Uma nova pesquisa mostra em que medida isso teve impacto nas empresas: em 240 das maiores do país, 86% dos funcionários com curso superior saíram de uma instituição privada. Estão distribuídos por todos os escalões. Entre os jovens recém-contratados, os egressos do ensino particular surgem em número ainda maior, o que revela que a tendência só se intensifica: eles são 90% do total. Parte do fenômeno, sobre o qual lançou luz o estudo conduzido pela consultoria Franceschini Análises de Mercado, deve-se à própria expansão acelerada das faculdades particulares. Elas concentram hoje 75% dos universitários. Era esperado, portanto, que também nas empresas houvesse mais deles. O que contribui para a surpreendente predominância das particulares é o fato de oferecerem às empresas formandos com uma visão mais focada nas questões práticas do mercado de trabalho. Resume Sofia Esteves, da Companhia de Talentos, responsável pelo recrutamento de jovens para 160 das grandes empresas no país: "O ensino privado está formando jovens mais prontos para a vida real".

O conjunto de escolas particulares de nível superior que realmente interessa às empresas é, na verdade, bastante reduzido. Constitui-se, basicamente, daquelas que sobressaem nas avaliações do Ministério da Educação (MEC) – e não das que colecionam notas medianas ou ruins, caso de 95% delas. O avanço dos outros 5% é evidente. No último ranking oficial, divulgado neste mês, oito delas figuravam entre as dez melhores faculdades do país e apenas duas eram públicas. Juntas, as particulares atraem quase metade dos Ph.Ds. brasileiros, o dobro de dez anos atrás. Além dos sinais de excelência, as melhores universidades privadas despertam a atenção das empresas porque, na comparação com as públicas, têm um currículo bem menos teórico. Um levantamento recente traz os números para o curso de administração de empresas, entre os mais procurados do país. Nas particulares, 40% das aulas são práticas. Nas públicas, apenas 20%. É uma pequena amostra de um cenário bem mais geral.

Lia Lubambo

No topo do ranking
Faculdades como o Ibmec focam a prática

A maior conexão das boas instituições particulares com o que se passa fora do ambiente acadêmico se deve, em grande parte, a uma prática comum a todas: elas só contratam professores que mantenham alguma espécie de vínculo com o mercado de trabalho. Os efeitos são positivos. As aulas refletem, naturalmente, mais da realidade do país. O fato de os professores levarem alunos às empresas é também uma ajuda muitas vezes decisiva para o ingresso mais rápido no mercado de trabalho. É o caso do economista carioca Fábio Fonseca, 24 anos, que, por indicação de um professor, arranjou um estágio num banco de investimento. Acabou contratado. Ele, que trabalha hoje numa consultoria, diz: "Já havia aprendido na faculdade os conhecimentos que me exigiam no banco".

A nova pesquisa reforça um problema antigo das universidades públicas: elas estão desconectadas das necessidades reais das empresas. Ao contrário das faculdades particulares, nelas mais da metade dos professores está há tempos afastada do mercado de trabalho. É fácil, portanto, entender por que, nas federais, qualquer mudança no currículo leva uma média de dois anos para acontecer, ao passo que, nas particulares, alterações são feitas a cada novo semestre. O resultado é um sistema caro e pouco eficiente. Enquanto o custo de um universitário de instituição pública no Brasil está entre os mais altos do mundo, o país responde por apenas 1,8% das citações nas melhores revistas científicas e 0,2% dos pedidos internacionais de patentes. São sinais claros de que essas universidades precisam avançar. E olhar para o exemplo das boas faculdades particulares pode ajudar.




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