A recuperação americana
Política

A recuperação americana


Editorial de O Estado de S Paulo



Sem dúvida bem-vinda, e considerada pelo presidente Barack Obama como "uma afirmação de que esta recessão está diminuindo e que as medidas tomadas (pelo governo) fizeram a diferença", a recuperação da economia americana, no entanto, ainda é vista com cautela pela maioria dos economistas.

Embora reconfortante, o índice de crescimento anunciado pelo Departamento do Comércio ? o índice oficial da variação do PIB americano é calculado por uma instituição independente, o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, que ainda não concluiu seu levantamento ? tem como base uma economia fortemente deprimida. De fato, o PIB americano vinha fraquejando desde o início do ano passado, razão pela qual alguns economistas afirmam que a recessão americana começou no fim de 2007, antes, portanto, de a crise financeira deflagrada pela quebra do banco de investimentos Lehman Brothers se estender para o resto do mundo.

Quando se examinam os motivos reais do crescimento registrado no período julho-setembro deste ano, é inevitável que se pergunte até quando esse bom momento pode durar. O consumo doméstico foi o principal fator que impulsionou a economia americana nesse período. Mas esse consumo foi fortemente sustentado pelo programa do governo de estímulo à troca de carros usados por modelos novos que consomem menos combustível, e esse programa já terminou. Outro estímulo tributário foi para reanimar as atividades do mercado imobiliário, mas esse estímulo será mantido só até dezembro.

Até agora, o governo gastou nos programas de recuperação US$ 787 bilhões, de um total de US$ 1,4 trilhão que poderia utilizar. O discurso da Casa Branca continua sendo o de empregar esses recursos, se for necessário. No entanto, a constatação da existência de um déficit de US$ 1,417 trilhão no ano fiscal encerrado em 30 de setembro (contra US$ 454 bilhões no ano fiscal anterior) e a projeção de mais desequilíbrio orçamentário nos próximos meses desaconselham gastos adicionais ? e a Casa Branca deve levar em conta esses fatos quando tiver de decidir sobre novos estímulos.

A recuperação do mercado de trabalho poderia tornar-se o principal motor do consumo daqui para a frente, o que reduziria a necessidade de medidas do governo para impulsionar a atividade econômica. Mas, apesar dos sinais de recuperação econômica, as projeções para o emprego continuam sombrias.

O índice de desemprego, atualmente em 9,8%, deve ultrapassar os dois dígitos em novembro e manter-se nesse nível nos meses seguintes. Há, normalmente, uma defasagem entre a recuperação da produção e o aumento do emprego, pois as empresas só voltam a contratar quando têm a segurança de que a crise está superada, o que ocorre algum tempo após o surgimento dos primeiros sinais de melhora. Desta vez, a profundidade da crise deve retardar ainda mais a abertura de novos postos de trabalho. Quanto à renda, pesquisas recentes mostram que o consumidor está pessimista com relação ao futuro, o que inibe as compras.

Fatores consistentes justificam a cautela dos que, mesmo admitindo o fim da recessão nos Estados Unidos, não acreditam que o resultado recém-divulgado pelo Departamento do Comércio se repita nos próximos trimestres.

O enfraquecimento do dólar é um fator positivo para a recuperação dos EUA, pois estimula suas exportações, mas encarece, para o consumidor local, os produtos importados, o que deve inibir as vendas de outros países para o mercado americano. Isso retarda a disseminação, para os demais países, dos efeitos positivos da recuperação americana.



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