Portadores de visão monocular querem
entrar para a categoria dos deficientes visuais
Leopoldo Silva / Ag. Senado |
"A luta continua" O senador Flávio Arns (PT), autor do projeto em favor dos monoculares |
"O deficiente monocular não pode sentir o prazer de seguir uma carreira militar. Nem ingressar na Marinha, na Aeronáutica ou ser piloto de avião, como é o sonho de toda criança e adolescente. Tudo isso para nós é utopia…" Tal lamento faz parte de um texto que a Associação Brasileira dos Deficientes com Visão Monocular fez circular durante todo o ano como uma corrente na internet. Com uma centena de sócios, a instituição pleiteia a inclusão da visão monocular na categoria das deficiências visuais. A reivindicação é explicável: se a cegueira de um olho for reconhecida pelo governo como uma limitação grave, seus portadores terão alguns privilégios, como isenção de impostos e cotas especiais em concursos públicos e em empresas com mais de 100 funcionários. Desde o início da década de 90, os deficientes físicos, auditivos, visuais e mentais e as vítimas de doenças como aids, câncer e esclerose múltipla contam com esses e outros benefícios (veja o quadro). A proteção justifica-se pelo fato de que seus portadores têm limitações severas, o que os coloca em desvantagem em relação aos cidadãos em condições normais.
Nada disso se aplica, no entanto, aos monoculares. Certamente a perda de um dos olhos representa um abalo existencial, mas ela não compromete a realização das atividades cotidianas. Há uma redução do campo visual e da noção de profundidade, mas o olho bom consegue compensá-la. Para driblar o problema do campo visual, o monocular instintivamente vira mais a cabeça para o lado do olho cego. A dificuldade em identificar a profundidade é sanada por uma percepção extremamente apurada das sombras e das diferenças de tamanho entre os objetos. "Essas compensações tornam a vida do portador da visão monocular praticamente normal", diz o oftalmologista Francisco Max Damico. Depois de um ano do diagnóstico, 95% dos monoculares estão adaptados ao seu dia-a-dia. Tanto é assim que a maioria dos 100 000 monoculares brasileiros pode tirar carteira de motorista. A Associação Brasileira dos Deficientes com Visão Monocular sofreu sua primeira derrota em agosto de 2008, quando foi vetado o projeto de lei relatado pelo senador Flávio Arns, do PT, que os incluía entre os deficientes visuais. "Os portadores de visão monocular podem até estar habilitados para a vida social, mas não deixam de ter uma limitação", diz ele. "A luta continua." Outros dois projetos semelhantes tramitam na Câmara.