Axl Rose, vocalista do Guns N’ Roses, demorou catorze
anos e gastou 15 milhões de dólares para lançar o novo
disco da banda. Só faltou compor músicas que prestassem
Sérgio Martins
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Em meados da década de 90, quando o Guns N’ Roses se desmilingüiu, o vocalista Axl Rose herdou o nome do grupo e a aura de ser o maior responsável por seu sucesso estrondoso, traduzido em vendas de 90 milhões de discos. Dali em diante, ele nutriu os fãs com a promessa de que seu próximo trabalho seria histórico. Passaram-se catorze anos e, agora, a espera acabou. Chinese Democracy, o novo disco do Guns N’ Roses, chega às lojas no dia 25. "Você já imaginou alguém dizendo para Michelangelo correr com a Capela Sistina? Não se apressa uma obra de arte", disse o empresário Andy Gould para justificar a demora (desde já, uma das frases mais estúpidas da história do rock). O veredicto? Chinese Democracy, de fato, garante um lugar na história para Axl Rose – mas apenas como um megalomaníaco que gastou 15 milhões de dólares, um valor recorde, num disco ruim, muito ruim. Melhor seria ter mantido o silêncio e o mistério.
Há um punhado de histórias ruins sobre Axl Rose, hoje com 46 anos. Nos primórdios do Guns N’ Roses, ele nocauteou com uma garrafa de vinho uma vizinha que ousou reclamar do som alto. Mais tarde, foi acusado de bater em namoradas e estuprar uma fã. Uma de suas canções, One in a Million, destila preconceito contra negros, imigrantes e homossexuais. Axl disse certa vez que na infância sofreu abuso sexual do pai e do padrasto. Viriam daí a sua raiva mal contida, o abuso de bebida e drogas e a sua misantropia, que redundou no desejo de isolar-se. Desde 1996, quando sua mãe morreu de câncer, ele raramente é visto fora de sua mansão em Malibu, na Califórnia. Se vai fazer algo para divulgar o novo disco, ninguém sabe.
Em sua fase áurea, o Guns N’ Roses tinha o guitarrista Slash, co-autor de sucessos como Welcome to the Jungle e Sweet Child O’ Mine, o baixista Duff McKagan e o baterista Matt Sorum. Axl brigou com todos, e mostrou-lhes o cartão vermelho. Começou então a saga para encontrar substitutos. Cada novo instrumentista que se apresentava era submetido a um "teste psicológico" ministrado pelo guru do vocalista. É sugestivo que um dos músicos de Chinese Democracy seja o guitarrista Buckethead, que sobe ao palco com um balde da rede de fast-food Kentucky Fried Chicken enfiado na cabeça e uma máscara de Jason, o maníaco da série cinematográfica Sexta-Feira 13. No total, cinco produtores desistiram de trabalhar no disco após terem sido submetidos aos métodos insanos de gravação de Axl. Como exemplo, ele gastou 300 000 dólares para ajustar o som de um único instrumento – o bumbo da bateria.
Em Chinese Democracy, o hard rock do Guns N’ Roses original cedeu lugar a uma mistura de rock pesado e música eletrônica. Faixas como Catcher N’ the Rye, uma balada, talvez até toquem nas rádios, mas serão esquecidas em bem menos que catorze anos. Axl diz que o novo álbum é o primeiro de uma trilogia. A depender de sua presteza, os dois outros discos poderão ser a trilha sonora da próxima era glacial.