Trombada nuclear Dois submarinos, que comportam 48 ogivas nucleares
A possibilidade de que dois aviões se choquem no ar, em velocidade de cruzeiro, é de uma para cada 200 milhões de decolagens. A probabilidade de colisão entre dois submarinos nucleares é tão menor que é impossível chegar a uma conta. Existem apenas 400 embarcações desse tipo, e suas manobras são cercadas de sigilo. Um desses acidentes raríssimos ocorreu no início deste mês, quando dois submarinos nucleares – o inglês HMS Vanguard e o francês Le Triomphant – se chocaram no meio do Oceano Atlântico. Só se soube da trombada quando a embarcação inglesa chegou a um porto na Escócia com o auxílio de um reboque, exibindo marcas da colisão no casco, na semana passada. O francês voltou para casa com o sonar destruído. Não houve feridos nem danos ambientais, segundo informações oficiais. A simples ideia de um desastre envolvendo duas embarcações carregadas de armas nucleares, no entanto, é suficiente para sugerir cenários apocalípticos. Cada um dos submarinos acidentados pode carregar 48 ogivas nucleares e dezesseis mísseis balísticos, que atingem alvos a 5 000 quilômetros – duas vezes a distância entre Madri e Berlim. Cada uma das ogivas tem poder de destruição cinco vezes superior ao da bomba de Hiroshima, que aniquilou 140.000 pessoas no fim da II Guerra. Apenas uma ogiva, portanto, poderia riscar do mapa uma cidade de 700 000 habitantes. Apesar disso, desastres de proporções globais causados por submarinos nucleares são improváveis. Mesmo que o reator nuclear se rompesse na colisão, a radiação só se espalharia por alguns quilômetros na água do mar, ao contrário do que ocorreria ao ar livre. Para detonar as ogivas, é preciso mais do que uma trombada. Um sistema de segurança, à prova de choques, impede a detonação do artefato. Não é a primeira vez que dois submarinos nucleares se chocam. Uma colisão célebre ocorreu durante a Guerra Fria, envolvendo um submarino soviético e um americano. Ambos foram à superfície sem saber ao certo em que tinham batido, quando se viram um diante do outro. O que torna o acidente peculiar é o fato de os submarinos serem de países aliados, que, em teoria, deveriam trocar informações sobre a localização de suas operações. "Como os submarinos são projetados para produzir o mínimo de ruído, basta que os sonares estejam desativados para haver o risco de acidentes", disse a VEJA o inglês Philippe Blondel, vice-diretor do Centro de Ciência Espacial, Atmosférica e Oceânica, da Universidade de Bath, na Inglaterra. |