O Estado de S. Paulo - 04/09/2012 |
É tanta a insistência com que se atira a projeções ultraotimistas sobre a economia, que, às vezes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, passa a impressão de que acredita nelas. E aí não se sabe o que é pior: se a determinação do ministro em manter o público falsamente motivado ou se a percepção de que ele está quase sempre enganado. Antes mesmo da virada de 2011 para 2012, Mantega distribuía boletins cor-de-rosa. Garantia que o crescimento do PIB deste ano seria próximo aos 5,0%. Em janeiro já prevalecia a opinião dos consultores auscultados pelo Banco Central de que o avanço do PIB não passaria dos 2,9%. Mas Mantega batia o pé em "alguma coisa entre 4,5% e 4,0%". A partir de junho, o Banco Central, para o qual prejuízos de credibilidade custariam mais, passou a trabalhar com 2,5% de avanço neste ano. Mantega preferiu dizer que o Banco Central não sabia fazer projeções das Contas Nacionais tão bem quanto ele. Semanas depois, então, mudou um pouco a tonalidade da música. Foi quando passou a anunciar que o PIB em 2012 aumentaria mais do que os magros 2,7% registrados em 2011. Ainda em junho, o banco Credit Suisse advertia seus clientes de que este ano não emplacaria mais do que pífio 1,5% de expansão econômica. Mantega revidou no mesmo dia: "É uma piada!". Na semana passada, até mesmo o ministro se deu conta do ridículo pelo qual passam certas projeções econômicas do seu Ministério, quando um documento oficial (Economia Brasileira em Perspectiva) insistia em divulgar números escancaradamente irrealistas: crescimento do PIB de 3,0%, em 2012; de 5,5%, em 2013; e de 6,0%, em 2014. Além de desautorizá-las, expurgou essas projeções do relatório que permanece no site do Ministério. Mas Mantega continua irradiando estrelinhas coloridas. Nos dois últimos dias úteis da semana passada, fez questão de dobrar sua aposta de que, até o final deste ano, a economia estaria avançando a um ritmo anualizado de pelo menos 4,0%. Até agora não há sinais do cumprimento de profecias assim. Mantega tem toda razão quando dá importância à formação das expectativas na condução da política econômica. As coisas só acontecem quando os agentes econômicos creem previamente nelas. Ninguém produz para amontoar encalhes. O empresário, por exemplo, só investe e contrata pessoal quando está convencido de que terá demanda por seus produtos. Mas o ministro imagina que a cadeira que ocupa no mesão de Brasília é tão poderosa que lhe confere o dom de convencer os brasileiros de qualquer coisa. Ninguém ignora que o governo é um privilegiado centro de informações. E que, em princípio, um ministro de Estado está mais bem informado do que um mortal qualquer da planície. Por isso, uma política consistente de comunicação é um poderoso instrumento de convencimento e de mobilização das forças da sociedade. No entanto, essa insistência em querer fazer a cabeça do mercado a qualquer preço está corroendo a credibilidade tanto do ministro como do governo Dilma. E um governo com baixa credibilidade corre o risco de piorar as coisas em vez de melhorá-las - como pode estar ocorrendo agora. |