Política
Afrouxamento dos juros Celso Ming
O ESTADO DE S. PAULO
O Banco Central não considera concluído o processo de afrouxamento dos juros iniciado em janeiro. É o que está, com todas as letras, no lacônico comunicado divulgado logo após a reunião dessa quarta-feira que reduziu os juros básicos (Selic) em mais 1 ponto porcentual.
Mas daí a achar que os juros cairão necessariamente na próxima reunião, agendada para o dia 10 de junho, vai um passo maior que as pernas. O que acontecerá dentro de mais de 40 dias está condicionado a um punhado de fatores, a maioria deles fora de controle das autoridades da área monetária.
Vai depender do comportamento da economia global e da dinâmica do crédito interno; vai depender de como se comportará o câmbio e, sobretudo, de como ficarão os preços internos num ambiente em que aumentam as despesas correntes do governo federal, a um ritmo superior a 20% ao ano.
Esta diretoria do Banco Central tem todo o interesse de mostrar que conseguiu domar a inflação, mesmo derrubando os juros aos níveis mais baixos dos últimos dez anos. Mas ninguém espere que a inflação no chão será obtida ao risco de novos apertos monetários (alta dos juros) de emergência, destinados a combater uma inesperada reincidência da inflação. Nada mais desmoralizador para a autoridade monetária do que ter de corrigir às pressas um excesso de permissividade na condução de sua política de juros.
Com a queda da Selic para o patamar dos 10,25% ao ano, o Brasil deixou o topo do ranking dos países que praticam os juros básicos mais altos do mundo e já figura em quinto lugar. É provável que, dentro de mais alguns anos, abandone esse clube.
Por mais que tentassem, até agora os economistas não foram convincentes sobre as razões que levaram o Banco Central a praticar por tanto tempo juros tão elevados. E por não terem explicado as causas dessa anomalia, também não conseguirão fazer ninguém acreditar em que os juros tendem agora inexoravelmente a níveis civilizados.
Mas talvez valha a pena considerar que os juros não se limitam a remunerar o capital. Embutem no total parcelas nem sempre facilmente quantificáveis, que seriam denominadas taxa de risco Brasil. Uma economia mais previsível pode dispensar esse fator.
E entre as razões que podem ajudar a economia brasileira a conviver com juros bem mais baixos do que os vigentes estão as novas condições de previsibilidade da economia. Ela está bem mais fortalecida do que estava há dez anos. Sua capacidade de resistência aos solavancos externos ficou evidente nesta crise. Não há nenhum grave problema na rede bancária interna. Já é possível planejar a longo prazo e ninguém mais espera enormes fugas de capital. O robusto crescimento das classes médias mostra que o mercado de consumo avança consistentemente e a perspectiva de crescimento das economias asiáticas por si só garante certo mercado externo para as commodities brasileiras sem sacrifício da indústria.
Em resumo, se é verdade que a grande crise externa tende a arrefecer, os fatores apontados acima tendem a garantir certa estabilidade de preços no longo prazo e, nesse ambiente, os juros podem prosseguir em baixa.
Confira
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