ALEXANDRE SCHWARTSMAN Contágio e conseqüência
Política

ALEXANDRE SCHWARTSMAN Contágio e conseqüência




Insistir em manter a demanda interna acelerada só trará mais depreciação cambial e mais inflação

HÁ PELO menos três canais por onde o impacto da crise nos afeta diretamente: comércio global, preços de commodities e, finalmente, fluxos de capitais.
A combinação deles deverá implicar não apenas a redução da taxa de crescimento, mas também uma alteração importante na sua composição, à medida que a demanda interna, fator preponderante da aceleração do crescimento nos últimos quatro anos, deverá encontrar limites bem mais claros à sua expansão.
De 2002 até meados deste ano a conjuntura internacional se mostrou extremamente favorável ao país. Sem desmerecer a adoção de políticas domésticas que, não tenho dúvida, ainda ajudarão o país a se diferenciar de vários de seus pares no futuro próximo, parcela relevante dos desenvolvimentos positivos no país se originou de fatores externos.
O país foi beneficiado, em primeiro lugar, pelo aumento de preços de commodities. Como exporta muito mais commodities do que importa, a alta resultou em preços de produtos exportados crescendo acima dos preços de importados, isto é, houve melhora dos termos de troca. Conjugada à expansão dos volumes exportados, em parte derivada da expansão do comércio global, essa melhora implicou forte elevação da capacidade de importar: entre 2002 e o terceiro trimestre de 2008, estima-se que o poder de compra das exportações tenha crescido 80%.
Esse processo permitiu que a demanda doméstica passasse a crescer acima da produção, o que não observávamos desde 1997/98, quando preços de commodities em queda haviam piorado nossos termos de troca. Obviamente, se a demanda doméstica cresce mais rápido que a produção, a diferença deve ser coberta com importações físicas crescendo acima das exportações físicas, o que foi possível principalmente pelo aumento do poder de compra das exportações. Completando esse quadro, a expansão da liquidez mundial barateou o financiamento, trazendo vastos volumes de capital estrangeiro, aparentes na expansão do investimento estrangeiro no país, em particular o investimento direto, que se acelerou de US$ 15 bilhões por ano entre 2002/5 para US$ 35 bilhões por ano em 2007/8.
Não há dúvida, porém, que esses três fatores mudaram de direção, isto é, podemos esperar queda de preços de commodities, desaceleração do comércio global e menores fluxos de capital. A resultante não poderia ser mais clara: a capacidade importadora se reduz e, portanto, também a diferença entre o crescimento da demanda doméstica e do produto deverá cair, revertendo o processo observado nos últimos anos.
Quem anuncia essa mudança, como seria de esperar, é o sistema de preços. Da mesma forma que a melhora externa se traduziu numa taxa real de câmbio mais forte, incentivando a demanda doméstica às expensas da demanda externa, a piora das condições internacionais requer o inverso, isto é, câmbio real mais depreciado, mesmo com a diferença entre os juros locais e os externos na verdade até mais alta do que no passado. Aliás, isso só demonstra o que venho há muito insistindo neste espaço, isto é, que a trajetória da taxa real de câmbio depende mais de variáveis externas do que a mera diferença de taxa de juros.
Em resumo, o choque externo reverteu as condições que permitiam o crescimento rápido da demanda doméstica com efeitos inflacionários mitigados (não eliminados) pela disponibilidade de importações. Insistir em manter a demanda doméstica acelerada só há de trazer mais depreciação cambial e inflação. Vamos tentar não repetir esse erro?



loading...

- Câmbio Não Gerou Recessão Na Indústria - Claudia Safatle
VALOR ECONÔMICO - 14/09 A recessão na indústria foi produto da queda dos investimentos e não, como indica o senso comum, da valorização da taxa de câmbio. "Foi a forte redução do crescimento do investimento, e não uma suposta "desindustrialização",...

- Quem Nos Navega é O Mar - Alexandre Schwartsman
FOLHA DE SP - 29/08O Brasil permanece uma economia bastante fechada ao comércio internacional. Apesar do crescimento expressivo nos últimos anos, o comércio representa apenas cerca de um quarto do PIB, deixando o país nas últimas colocações do...

- A Balança E O Balanço Do Dólar Vinicius Torres Freire
O dólar subiu muito e, em tese, ameaça a inflação; esse vai ser o problema do BC na decisão sobre os juros NOS PRÓXIMOS meses haverá tiroteios a respeito do efeito do encarecimento do dólar sobre a inflação. Como quase todo mundo reconhece...

- Yoshiaki Nakano O Brasil Precisa De Nova Estratégia
Como o crédito externo estará muito difícil, a nova estratégia econômica requer mais poupança doméstica COM A ABERTURA da conta de capitais no início da década de 90, o Brasil adotou uma estratégia econômica dependente da poupança externa...

- Alexandre Schwartsman Emplasto Brás Cubas
O problema não é, e nunca foi, crescer no próximo ano, e sim garantir que o crescimento seja duradouro HÁ QUEM prefira "Dom Casmurro", mas meu favorito sempre foi "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e seu miraculoso "emplasto anti-hipocondríaco,...



Política








.