Alô, Alô, Terezinha, de Nelson Hoineff
Política

Alô, Alô, Terezinha, de Nelson Hoineff


A vez das figurantes

No documentário sobre o apresentador Chacrinha, as maiores estrelas
são suas dançarinas, as chacretes – apesar de quase todas hoje levarem
vida modesta, longe da televisão


Bruno Meier

Divulgação

RODA E AVISA
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de músicos e humilhação de calouros


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Com seus bordões que até hoje são lembrados ("Quem não se comunica se trumbica"), seu figurino carnavalesco e sua pança pantagruélica, Chacrinha – no registro civil, José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988) – foi uma das figuras mais exóticas da história da televisão brasileira. Seu jeitão popularesco e escrachado fez escola, para o bem e para o mal – em certo sentido, ele é antecessor tanto do deboche do Casseta & Planeta quanto das baixarias do Ratinho. No entanto, no documentário que lhe é dedicado, Alô, Alô, Terezinha (Brasil, 2009), que estreia nesta sexta-feira, Chacrinha acaba em parte obscurecido por aquelas que eram figurantes de seu programa de auditório: as dançarinas conhecidas como chacretes. O diretor Nelson Hoineff entrevistou várias delas, em depoimentos que vão do engraçado ao patético.

Em uma das cenas mais bizarras, a ex-chacrete Índia Potira rebola, nua, dentro de um chafariz, lembrando os tempos em que chamava os comerciais do Cassino do Chacrinha. Sua vida pós-televisão foi acidentada: envolveu-se com drogas, foi presa e se apaixonou por um traficante na cadeia. Vera Furacão, sua ex-colega de trabalho, conta aventuras sexuais, as quais incluiriam (diz ela) Silvio Santos e Chico Buarque. Rita Cadillac – a única que conservou alguma notoriedade, como atriz pornô – afirma que sua lista é maior: "Só faltaram o Vanderlei Luxemburgo e o José Mayer. Se derem mole, eu traço", vangloria-se. Outras chacretes seguiram carreira modesta: Fátima Boa Viagem vende cachorro-quente no interior do Rio de Janeiro, Beth Boné celebra cultos evangélicos em casa com o marido e Cléo Toda Pura virou garçonete.

Alô, Alô, Terezinha não é uma biografia do Velho Guerreiro, mas uma tentativa de dimensionar sua importância para a televisão, a cultura popular e a indústria fonográfica: o artista que se apresentava em seu programa podia contar com uma boa execução radiofônica. As cenas dos shows de calouros são por vezes dolorosas. O apresentador debochava impiedosamente de cantores gagos ou com jeito afeminado. Alô, Alô, Terezinha chega aos cinemas embalado pela publicidade na internet: um vídeo do cantor Biafra sendo atingido por um parapente enquanto cantava Sonho de Ícaro ("Voar, voar / subir, subir’’) para a gravação de um depoimento sobre Chacrinha virou hit do site YouTube, com mais de 410 000 exibições. Biafra, aliás, ressurgiu graças ao vídeo. Chacrinha, de além-túmulo, ainda é um tremendo promotor dos amigos músicos.


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