As autoras das adolescentes
Política

As autoras das adolescentes


DA VEJA

GAROTA QUARENTONA

A americana Meg Cabot conquistou as adolescentes com
séries bem-comportadas como O Diário da Princesa. Ela escreve
em ritmo industrial – e mantém uma cabeça de 14 anos aos 42


Marcelo Marthe

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A escritora americana Meg Cabot teve uma adolescência infernal – e não só porque se achava feia e odiava seus óculos de nerd. "Meu pai era alcoólatra, e eu morria de vergonha de seus porres. Não podia receber amigas em casa", revelou a VEJA. Depois da morte do pai, outro constrangimento: a mãe começou a namorar um de seus professores. Meg mergulhou nos livros para se abstrair dos problemas – mas não achou nenhum título que a satisfizesse. "Os romances para meninas eram aborrecidos", diz. Hoje, aos 42 anos, a própria Meg cuida de prover fantasia às adolescentes. Ela é uma potência literária entre as garotas bem-comportadas de 14 a 19 anos. Desde 2000, lançou 54 títulos – sim, a média é de cinco livros e meio por ano –, que totalizam 15 milhões de exemplares vendidos no mundo (800 000 deles no Brasil). Sua obra de estreia, O Diário da Princesa, deu origem à série homônima (cujo décimo e último volume será lançado por aqui em julho, pela Galera Record) e a dois filmes da Disney. Fala de uma adolescente que se descobre herdeira do trono de uma monarquia europeia fictícia – e a autora conseguiu até encaixar um detalhe autobiográfico nesse enredo açucarado: a mãe da protagonista sai com seu professor de matemática. Em outra série, A Mediadora, a heroína é uma jovem médium apaixonada por um fantasma. Recentemente, Meg passou a investir no público infantil, por meio das tramas da personagem Allie Finkle, de 9 anos.

Meg acredita que sua literatura oferece às adolescentes a possibilidade de fugir aos problemas típicos da idade. "É escapismo mesmo", admite. Para manter a sintonia com o público, ela colhe as histórias de milhares de leitoras no seu site na internet. Mas se vale, sobretudo, de um traço que seu interlocutor percebe em cinco minutos de conversa: "Minha idade mental é de 14 anos. Como não pude viver essa fase plenamente, virei adolescente depois de adulta". Meg é uma expoente da chick lit, ou "literatura de mulherzinha", que lida com as angústias femininas de forma bem-humorada. O gênero foi celebrizado por uma obra que pintava a mulher adulta como um ser francamente infantilizado – O Diário de Bridget Jones, da inglesa Helen Fielding –, mas encontra sua expressão mais apropriada nos livros voltados para as adolescentes.

No Brasil, quatro autoras desse filão somam 2,5 milhões de livros comercializados. O mesmo tipo de leitora de Meg Cabot – as românticas e certinhas – é disputado pela conterrânea Stephenie Meyer, criadora de Crepúsculo e outros três best-sellers sobre a paixão de uma adolescente por um vampiro (o quarto livro, Amanhecer, sairá aqui no fim do mês, pela Intrínseca). A série inspirou um sucesso recente do cinema. E Stephenie participa, ao lado de Meg, de uma coletânea de histórias de terror que acaba de ser lançada no Brasil,Formaturas Infernais (também da Galera Record). A carioca Thalita Rebouças conquistou as pré-adolescentes locais com as aventuras de Malu, estudante de classe média às voltas com o primeiro "amasso", professores "gatos" e amigas "bizarras". Há, por fim, a americana Cecily von Ziegesar – cuja série mais conhecida, Gossip Girl (que dá mote a uma série badalada de televisão), aborda a vida fútil de jovens da elite nova-iorquina.

Meg iniciou-se na escrita com um previsível gênero adolescente: o diário. Começou a escrever ficção seriamente já na casa dos 20, incentivada pelo namorado (hoje marido), Benjamin. O Diário da Princesa, seu romance de estreia, de 2000, foi o mais demorado: entre a redação e a busca de uma editora, Meg levou cerca de dez anos, período em que tinha um emprego no dormitório da Universidade de Nova York. Desde então, a autora produz em ritmo industrial. Redige de cinco a dez páginas por dia. Usa uma metáfora galinácea para explicar o prodígio: "Sou uma poedeira". Há alguns anos, Meg trocou Nova York pela Flórida, estado onde paga menos impostos. Vive numa mansão do século XIX em Key West, com o maridão, Benjamin, ex-executivo de Wall Street convertido em cozinheiro. "A principal atividade dele é cuidar de meu estômago", diz a autora. O casal não tem filhos. A escritora teve de se submeter a uma cirurgia que a deixou estéril – tema sobre o qual mesmo essa otimista incorrigível não gosta de falar. Em setembro, Meg virá ao Brasil para participar da Bienal do Livro do Rio. E já anuncia: "Quero ver belas praias e beber muitos drinques".


 
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Fotos David Howells/Corbis/Latinstock e divulgação




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