As musas do Carnaval 2009 cresceram
Política

As musas do Carnaval 2009 cresceram


Querida, expandi as rainhas

No padrão estético da Sapucaí, o que era natural ganhou aditivos
variados. E o que era bonito ficou grande. Muito, muito grande


Silvia Rogar

Armando Gonçalves
BELEZA PURA
Luma em 1990: zero de músculos


Compare e comprove. Na foto à direita, Luma de Oliveira no Carnaval de 1990. Corpo esguio, seios delicados, nem um único músculo aparente – ginástica, naquele tempo, era sambar. Se a própria Luma encorpou, se avantajou e siliconou, a atual geração de estrelas do Carnaval é um espanto de corpos malhados e expandidos até os limites – ou um pouco além. No Carnaval de 2009, rainha de bateria que se preze tem pelo menos 1 metro de quadris. Isso de medidas confessadas. As coxas, apesar da semelhança com troncos de madeira de lei, não existem na natureza: nascem de exercícios de rigor indescritível em academias de ginástica, aditivadas por substâncias que todo mundo toma, mas ninguém admite. Submetidas ao mesmo regime, as nádegas, já naturalmente proeminentes, avançam como mísseis balísticos. Os seios, invariavelmente turbinados com implantes, arrematam a silhueta das hiperfêmeas, as mulheres apoteóticas, de características femininas exacerbadas até o exagero. "O povo quer ver curvas, seios, bumbum bonito, corpo malhado", define Renata Frisson, a Mulher Melão, 100 centímetros de quadris, 500 mililitros de silicone, rainha da bateria da escola Lins Imperial.

A Melão, como se sabe, faz parte da geração Melancia, a estirpe prodigiosamente inaugurada por Andressa Soares, 20 anos. A dançarina de funk é o epítome do estilo, por assim dizer, violoncelo e mãe de todas as mulheres com apêndices frutíferos surgidas desde então (além da já citada Melão, a Moranguinho Ellen Cardoso, rainha da bateria da Paraíso do Tuiuti, e a Maçã Gracy Kelly, que diz que tem "um pouco de vergonha do bumbum, que chama muita atenção, mas sei que os homens gostam mais de uma maçã que de uma modelo"). A estética da abundância expande medidas até em quem já as tinha generosas. Sambista veterana, Nana Gouvêa, madrinha da Império da Tijuca, sempre fez o gênero polpuda, mas, diante da concorrência, deu o melhor de si – em cinco meses de malhação, ampliou em vários e salientes centímetros a circunferência de coxas e quadris. Viviane Araújo, do Salgueiro, entre outras coisas já fez lipo na cintura para destacar o impressionante resto. A novata e siliconada Juliane Almeida, no afã de bem substituir na Viradouro a quase xará Juliana Paes – uma sílfide, em comparação –, malhou como nunca as coxas, das quais a musculatura chega a avançar em ângulo de quase 90 graus.

O expansionismo muscular avançou sobre o Big Brother Brasil, com participantes claramente escolhidas pelo perfil frutífero. "Coloquei a Mulher Pomar dentro da casa", diz Boninho, diretor do programa, sempre sintonizado com o gosto popular. O que nos traz ao presidente Lula, envolvido de forma inadvertida, mas divertida, no tema. Em visita às obras do Programa de Aceleração do Crescimento – do país, do país –, no Complexo do Alemão, no Rio, conheceu de perto a nada sutilmente chamada Valesca Popozuda, funkeira carioca que exibirá o corpão à frente da bateria da Porto da Pedra. "Ele perguntou se malho muito, deu aquela conferida. Ah, ele é homem, né?", gaba-se a cantora, que aguarda sanção presidencial para gravar um batidão feito em homenagem ao encontro. Dizem os memoráveis versos: "Conheci o Lula no Complexo do Alemão / E ele não tirou o olho do meu popozão / ...Que Dilma que nada! Me leva pra Casa Civil / Vou pôr som na caixa e balançar o quadril".

A geração Melancia tem até, acreditem, interesse cultural, pelo que revela de descompasso entre os corpos ideais que as mulheres sonham ter – Angelina Jolie, Gisele Bündchen – e os modelos ancestrais de beleza, de seios e ancas avantajados, indicadores de boa capacidade reprodutiva. "Até hoje esse perfil feminino continua interessante no inconsciente masculino, por remeter à perpetuação da espécie", diz a psiquiatra Carmita Abdo, do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ou, em outras palavras, os homens preferem as curvilíneas. Num levantamento feito pela antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com 444 cariocas, o bumbum foi a parte mais citada (23%) como a mais atraente e a ex-morena do Tchan Scheila Carvalho, a mais apontada como modelo de beleza feminina. Como há pesquisas para tudo, um estudo da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, relaciona as mudanças de comportamento que lançaram a mulher no mundo do trabalho remunerado aos corpos menos curvilíneos. Segundo a pesquisa, a vida profissional faz com que mais mulheres tenham níveis mais altos de hormônio masculino (e, portanto, quadris mais estreitos e pouca cintura), o que aumenta a competitividade e a capacidade de lidar com situações de stress. Isso, evidentemente, se a carreira não for no samba, no funk ou em outras esferas em que predomina o gosto pelas dimensões astronômicas."É disso que o povo gosta", resume, do alto de suas formidáveis saliências e reentrâncias Gracyanne Barbosa, rainha da bateria da Mangueira.

Mauricio Melo
Viviane Araújo, 33 anos
Escolas: Salgueiro (Rio) e Mancha Verde (SP)
Cintura: 65 centímetros
Quadris: 100 centímetros
Coxa: 68 centímetros
Preparação: malha duas horas todos os dias; já fez lipo na cintura
Comentário: "Admiro Gisele Bündchen,
mas não a invejo. Adoro minhas pernas"


Juliane Almeida, 24 anos
Escola: Viradouro
Cintura: 64 centímetros
Quadris: 102 centímetros
Coxa: 62 centímetros
Preparação: duas horas de exercícios aeróbicos e musculação de segunda a sexta; tratamentos para ganhar tônus e combater a celulite
Comentário: "Quando fazia balé, sempre me pediam para emagrecer por causa do bumbum"
Luis Alvareng/Ag. O Globo


Marcio Mercante/
Ag. O Dia
Nana Gouvêa, 33 anos
Escola: Império da Tijuca
Cintura: 63 centímetros
Quadris: 93 centímetros
Coxa: 53 centímetros
Preparação: musculação pesada, que a fez ganhar 3 centímetros nas coxas, na cintura e nos quadris nos últimos cinco meses
Comentário: "Na minha idade, não
dá para ser magrinha e durinha"


Gracyanne Barbosa, 26 anos
Escolas: Mangueira, Império da Casa Verde e Unidos de Manguinhos
Cintura: 71 centímetros
Quadris: 101 centímetros
Coxa: 69 centímetros
Preparação: prótese de silicone de 450 mililitros nos seios, dieta de proteínas e carboidratos, musculação pesada três vezes por semana e spinning todos os dias
Comentário: "Meu corpo é
o padrão que o povo gosta"
Tasso Marcelo/AE


João Laet/
Ag. O Dia

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