Política
Atomizar, polarizar Cesar Maia
FOLHA DE S. PAULO
A pedagogia dos historiadores quase sempre busca uma data para marcar a fronteira entre períodos. O 9/11/1989, a queda do Muro de Berlim, é a data escolhida para o fim da Guerra Fria.
Assim, a política foi se desideologizando e todos caminharam para o centro. A esquerda ficou social-democrata, e a direita, social-liberal, ambas como faces do mesmo centro. O que não impede que se passe de um lado para o outro sem nenhuma cerimônia. Programas de renda mínima (Bolsa Família...), tão caros aos governos à esquerda, são tipicamente social-liberais: buscam igualar o ponto de partida para as iniciativas individuais.
Essa indiferenciação crescente, entre partidos e entre governos, terminou por estimular a atomização partidária. Os EUA são uma exceção, porque, nas primárias, permitem que forças que poderiam ser novos partidos aceitem disputar eleições pré-presidenciais e concordar com seus resultados.
O Uruguai é outra exceção, e pela mesma razão. Até a Alemanha, com um sistema eleitoral feito para eliminar os extremos, hoje é parte dessa atomização, com o crescimento dos pequenos partidos e a criação de mais um, à esquerda.
Com isso, os governos são e serão de coalizão. O Reino Unido conta hoje com três partidos competitivos e um -nacionalista- em ascensão. Isso para não falar da nossa América Latina, onde a atomização é a regra. O Chile adotou um sistema de grandes coalizões, transformando seis partidos em dois blocos, mas está às vésperas de desmontar o seu inteligente sistema binário.
Junto à atomização vem a tecnologia eleitoral, que permite a antipolíticos serem transformados em estrelas a golpes de ilhas de edição.
A performance dos presidentes-estrelas se descola da avaliação de seus governos. Na América Latina é assim em geral, e só há convergência, no inverso, quando o presidente desmancha. Com isso, a oposição só é eficaz personalizando a crítica.
O presidente-estrela, com a atomização, joga todos para dentro do governo, fazendo sua maioria parlamentar. E tanto faz, pois seu governo não afeta sua popularidade. Consolidada a maioria, governa de forma autocrática e provoca a oposição de forma a estimular a máxima polarização. Um dos polos é ele, e nunca seu governo.
Essa é a fórmula. Nas democracias mais avançadas, suavemente. Nas democracias pela metade, de forma descarada, onde, depois da eleição, e já no exercício do poder, o regime se torna autoritário, aberto ou disfarçado. Eliminam-se assim os direitos políticos dos cidadãos.
Em economias mais fortes, como o Brasil, os excessos vêm disfarçados pelos riscos: a resistência é maior.
Mas, sublinhe-se: apenas disfarçados.
loading...
-
Desde Quando O Pt Ainda é De Esquerda? Por Ricardo Noblat
O ex-ministro José Dirceu criticou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) por estar disposto a concorrer à presidência do Senado enfrentando a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL), apoiada pelo PT, PMDB, demais partidos da base do governo e...
-
A Inserção Do Brasil E Da América Do Sul Na Segunda Década Do Século Xxi
O futuro do projeto sul-americano dependerá cada vez mais das escolhas brasileiras e da forma pela qual o Brasil desenvolva suas relações com os Estados Unidos. No campo político, depois da hegemonia das idéias neoliberais e privatistas, e de uma...
-
Desorientação Ideológica
Apesar das recorrentes teorias que preconizam o enfraquecimento ou o fim da dicotomia esquerda-direita, continua a existir um relativo consenso de que tal oposição subsiste e que continua a fazer grande sentido nos dias de hoje. A política existe porque...
-
Cesar Maia Voto Da Direita
Folha de S Paulo,OUTRO DIA , o presidente Lula disse que essa será a primeira eleição em que a direita não terá candidato. A menos que o voto seja restrito, no melhor estilo do século 19, ela votará e escolherá um dos candidatos. Mas quem são...
-
"transformismo" Cesar Maia
FOLHA DE S. PAULO O pluripartidarismo brasileiro, com voto proporcional aberto por Estado e um Senado funcionando como Câmara de Deputados, só poderia ter como consequência as relações políticas inorgânicas existentes. O mandato é percebido...
Política