Bactéria mais resistente - CELSO MING
Política

Bactéria mais resistente - CELSO MING



O Estado de S.Paulo - 17/01

O Banco Central teve de ir mais longe do que pretendia no aperto dos juros. Essa mudança de planos também diz mais do que poderia parecer.

Ficou claro que a dose anterior do remédio não foi suficiente. A infecção é mais séria do que apontavam os diagnósticos oficiais. Ou seja, está sendo questionada a capacidade do Banco Central de prever a trajetória da alta dos preços. Ele mais vem sendo conduzido pela inflação do que a vem conduzindo.

Desde novembro, os comunicados vinham passando o recado de que o ciclo de alta dos juros estava no fim. Esse fim ficou mais uma vez adiado até que esteja mais clara a convergência da inflação, não propriamente para a meta, mas para um ponto qualquer mais próximo dela, que é de 4,5% ao ano.

Fica questionado, também, o procedimento adotado. O Banco Central foi levado a reforçar a alta de juros não só porque a política fiscal não ajuda - ou porque a austeridade na condução das contas públicas é insuficiente para reduzir a demanda por bens e serviços que corre acima da capacidade de oferta da economia. Também vai ficando inevitável admitir que a política monetária (política de juros) perdeu certo grau de eficácia. Enfrenta uma bactéria geneticamente modificada bem mais resistente aos antibióticos convencionais.

Esse parece, em parte, o resultado das decisões do próprio governo, que vem represando artificialmente suas tarifas. Quanto mais interfere nos preços sobre os quais a política de juros não atua - ou sobre 25% da cesta de consumo -, mais, também, o Banco Central tem de puxar pelos juros, de maneira a agir sobre o segmento que cobre os 75% restantes.

Em outras palavras, a reindexação, ou seja, a prática de reajustes automáticos de preços, de que o Banco Central vem reclamando, também fica tanto mais acirrada quanto mais o governo atrasa seus reajustes: os agentes econômicos (os fazedores de preços livres) tendem a remarcar mercadorias e serviços não mais de acordo com a inflação, mas de acordo com a evolução dos preços livres.

Como vem sendo observado por esta Coluna em edições anteriores, em 2013, por exemplo, os preços administrados diretamente pelo governo avançaram apenas 1,52%, enquanto os preços livres subiram 7,27%.

Tudo indica que o Banco Central não tem clareza sobre os próximos passos. Segue determinado a desacelerar a alta dos juros, mas, diante do que aconteceu em dezembro, não sabe o quanto sua política será exigida nos próximos meses. A introdução da expressão "neste momento", usada pela primeira vez em seu comunicado para justificar a alta dos juros decidida quarta-feira, sugere que continuará monitorando os momentos seguintes e, a partir daí, agirá.

Em parte, depende do resto do governo, especialmente da qualidade da política fiscal dos próximos meses. Mas depende, principalmente, do comportamento futuro da própria inflação. As expectativas do mercado, colhidas pelo próprio Banco Central por meio da Pesquisa Focus, são de que, apesar do aperto monetário, a inflação continuará correndo acima dos 6,0% ao ano.



loading...

- Recuo Da Inflação - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 07/12 A inflação (evolução do IPCA) de novembro teve um comportamento melhor do que em outubro. Ficou em 0,54%, ligeiramente abaixo da expectativa do mercado. No período de 12 meses, também caiu, desta vez para 5,77%...

- Sem Euforia - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 08/08 A inflação de julho (evolução do IPCA) veio dentro do esperado, de apenas 0,03%. Com isso, a inflação em 12 meses, que em junho estava nos 6,70%, caiu para 6,27% (veja gráfico). A presidente Dilma e o ministro...

- A Alta Dos Juros Continua - Celso Ming
ESTADÃO - 19/07 O principal recado que o Banco Central passou nesta quinta-feira por meio da Ata do Copom é de que a inflação continua “elevada e resistente” e que, nessas condições, continua precisando de corretivo.É uma importante diferença...

- Fim De Ciclo - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 12/04 O ciclo de desaperto monetário do governo Dilma produziu, desde agosto de 2011, uma baixa nos juros básicos de 5,25 pontos porcentuais ao ano, de 12,50% para 7,25% ao ano, mas não conseguiu nem empurrar o PIB nem conter...

- Celso Ming A Inflação Da Petrobrás
A inflação está claramente em queda no Brasil e, nisso, mostra que o principal receio do Banco Central não está se cumprindo. Ou seja, a alta do dólar não está sendo repassada para os preços. A implicação imediata dessas premissas é a de que...



Política








.