Nathália Butti
Arki Fata/ Reuters |
Cuidados médicos As mães de aluguel são assistidas em clínicas durante toda a gravidez |
Um dos bons negócios da Índia é a prestação de serviços internacionais a baixo custo. Primeiro, graças ao fato de o inglês ser a língua franca do país, criaram-se call centers para atender às ligações feitas nos Estados Unidos. Depois, passou-se a fornecer serviços administrativos, como os de contabilidade. Agora, o país se tornou o cenário de uma nova indústria, a terceirização reprodutiva. Em linguagem direta, significa oferecer barrigas de aluguel a preços módicos. Há pelo menos 350 clínicas especializadas na Índia, três vezes mais que em 2005. No ano passado, foram realizadas mais de 1 000 tentativas de gravidez com barriga de aluguel nessas clínicas. Estima-se que o número chegue a 1 500 neste ano.
O motor do negócio são a legislação, que permite todo tipo de experiência de fertilização, e os preços baixos. O aluguel de barriga, proibido em vários países europeus e em muitos estados americanos, foi legalizado na Índia em 2002. O custo para encomendar um bebê fica em torno de 30 000 dólares, um terço do valor do mesmo procedimento se fosse realizado nos Estados Unidos. Na conta já estão incluídos os serviços de agenciamento da clínica, os procedimentos médicos, os bilhetes aéreos e reservas em hotéis para duas viagens à Índia (a primeira para a fertilização e a segunda para buscar o bebê) e o pagamento à "mãe substituta". Em média, ela recebe 8 000 dólares pelos nove meses de gestação. É uma fortuna para os padrões locais. O salário médio de uma mulher alfabetizada na Índia é de apenas 20 dólares mensais.
Prasad Kumar/AFP |
Um filho, dois pais Yonatan e Omer com o bebê indiano: escolha pela internet |
Além de serem pagas, as gestantes passam em média doze meses em alojamentos confortáveis anexos às clínicas, com boa alimentação, roupas e cuidados médicos permanentes. Quando a encomenda inclui a doação de óvulos – modalidade comum entre casais homossexuais –, a doadora de óvulos e a mãe substituta são sempre mulheres diferentes, para evitar que se apeguem ao bebê. Tudo está claramente expresso nos contratos, muitas vezes assinados com as digitais das contratadas que são analfabetas.
Para Yonatan e Omer Gher, casal homossexual de Israel – país que faz restrições à barriga de aluguel –, a escolha foi feita em duas etapas, examinando perfis de candidatas pela internet. Depois de elegerem a doadora do óvulo, eles optaram por uma dona de casa ("um estilo de vida menos estressante", contaram a um jornal americano) para ser a barriga de aluguel do bebê gerado com o sêmen de Yonatan. Por opção deles, a dona da barriga de aluguel nunca soube que carregava um filho para um casal de dois pais. Quando a gestação do bebê começou, a homossexualidade ainda era ilegal no país das barrigas de aluguel