Bazucas em ação - Celso Ming
Política

Bazucas em ação - Celso Ming




O Estado de S.Paulo


Se, em setembro de 2010, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tinha razões para se sentir ameaçado pela guerra cambial, agora tem muito mais.

Cada qual com suas justificativas, grandes bancos centrais disparam suas bazucas sobre o mercado monetário e, assim, despejam trilhões em moeda forte. Essas justificativas tornam inúteis as reclamações do ministro.

Quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) avisou que os juros ficariam próximos de zero não mais até meados de 2013, mas até o final de 2014. Indica que o dinheiro ficou tão abundante que seu preço (os juros) rasteja. O presidente do Fed, Ben Bernanke, planeja nova rodada de afrouxamento quantitativo.

Essa expressão do jargão financeiro surgiu em 2008, quando o Fed iniciou grande operação de recompra de títulos do Tesouro americano. Esse é um eufemismo criado para disfarçar "emissão de moeda". Além do US$ 1,7 bilhão injetado na compra de ativos privados rejeitados pelo mercado a partir de 2008, o Fed fez duas grandes operações de afrouxamento quantitativo e, no total, recomprou mais US$ 900 bilhões em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. O Fed acumula hoje US$ 2,9 trilhões em ativos em seu balanço (veja o Confira).

O Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, além de recomprar títulos soberanos num total de 213 bilhões de euros, criou nova linha de financiamento ilimitado para os bancos com prazo de três anos, denominada Operação de Refinanciamento de Longo Prazo (LTRO, na sigla em inglês), a juros de 1% ao ano. Por meio dela, colocou na economia outros 489,2 bilhões de euros no final de dezembro e já agendou repeteco em 29 de fevereiro, quando se espera dos bancos demanda equivalente. Somente nessas duas operações, o BCE poderá ter emitido ao final de fevereiro cerca de 1 trilhão de euros. Até lá, o total de ativos em seu balanço poderá ter saltado para nível acima de 3,2 trilhões de euros.

O objetivo desses grandes bancos centrais é evitar o colapso do crédito e impedir o naufrágio de um Titanic bancário, capaz de produzir um tsunami.

Não há sinal de que esse mundaréu de dinheiro provocará inflação. Nos países de economia madura, a atividade econômica passa por longa fase de dormência, como ursos ao longo do inverno.

Mas são outros efeitos colaterais que tiram o sossego do ministro Mantega. Essa superliquidez provoca desvalorização das moedas fortes. E essas desvalorizações podem não ser visíveis por quem acompanha as cotações entre as duas moedas, porque ambas parecem relativamente niveladas. Estão baixando, como barcos na maré vazante. No entanto, é inevitável que o grande volume de moeda provoque a valorização do real (baixa do dólar) no câmbio interno.

Esse efeito não é passageiro. Como o Fed promete juro zero por mais três anos e o BCE concede esses megafinanciamentos por três anos, os mercados permanecerão inundados de moeda barata pelo menos até final de 2014 - ou seja, quando termina a atual administração Dilma.

Não será com rodinho e pano de chão que Mantega evitará a inundação de moeda estrangeira no Brasil. E não serão suas denúncias que reverterão a ação expansionista dos grandes bancos centrais.



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