Caché - um filme de Michael Haneke
Política

Caché - um filme de Michael Haneke


De como o titulo original "Escondido" (Caché) leva em português o sentido contrário: "Nada a Esconder"
Atalanta Filmes


Georges, jornalista e programador de televisão de sucesso , recebe vídeos, filmados clandestinamente a partir da rua, em que aparece com a família, assim como desenhos perturbadores e difíceis de interpretar, e não faz a menor ideia da identidade do remetente.Pouco a pouco, o conteúdo das cassetes vai-se tornando cada vez mais pessoal, o que o leva a pensar que o autor o conhece há muito tempo.
Georges sente que uma ameaça paira sobre si e sobre a sua família mas, como não é explícita, a polícia recusa-se a ajudá-lo...
Rodrigues da Silva no JL/922:
“E quem terá enviado as casssetes?” – perguntará no final o espectador de “Caché”. A pergunta justifica-se mas não percam tempo com ela. Michael Haneke fez de propósito, ao deixar tudo em aberto. Sabem porquê? Porque se tudo ficasse claro, depois do filme arriscávamo-nos a não pensar mais nele. E Haneke quer-nos despertos, abanados do torpor em que o sucessivo consumo de imagens diariamente nos deixa. Por isso é que, logo a abrir, nos engana. Pensamos que o longo plano fixo sobre om qual corre o genérico faz parte da história, e afinal… E, afinal faz, mas o que vemos não é uma imagem de uma casa, mas a de um vídeo que a filmou.(…)
Afinal as cassetes remetem para a infancia de Georges, onde quando tinha seis anos algo correu mal. Uma história de irmãos (de irmãos entre aspas), porque, se ele era filho e francês, o outro era adoptado. E argelino. E seria expulso da família de adopção por culpa deste francês que, só agora, depois de tantos anos – graças às tais cassetes – é obrigado a rememorar esse passado. Com sentimento de culpa? Sim, mas uma culpa que Haneke torna politicamente simbólica, porque se o puto argelino tivera de ser adoptado é porque os pais tinham morrido. E quando? E onde? E como? Em Outubro de 1961, em Paris, quando, no decorrer de uma manifestação pró-independência da Argélia, pela Polica francesa foram deitados ao Sena, nele se afogando mais de duas centenas de compatriotas. A França tardou a assumir isto”.

Entrevista ao realizador de "Caché", Michael Haneke

“Porque explora a culpabilidade colonial francesa?
Remexo na história. Gosto disso. Foi semelhante na Áustria, onde há tantos buracos negros que a culpabilidade individual acaba por se fundir na culpabilidade nacional. Os factos existem: há 50 anos, os franceses agiram mal na Argélia, mas a memória colectiva do país não o aceitou. Aconteceu o mesmo na Áustria: ninguém era nazi durante a guerra, eram todos vítimas. Esta espécie de cegueira voluntária deixa-me louco”. (ler mais aqui)

E nós por cá? Todos bem? Para quando um grande filme que espie as nossas culpas da nossa herança colonial?
Ou tudo nos é indiferente, como se não se tivesse passado nada? – penso que esta ausência de crítica seja por o presente ainda interferir demasiado nesse passado recente.
"Nada a Esconder?" Ou está e ficará "Escondido?"



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