O Estado de S.Paulo 25/05/11
Desculpe o tratamento direto, mas um dos primeiros sinais de que a senhora era candidata à sucessão do presidente Lula foi a visita que fez às obras do Pan no começo de 2007. Era ministra da Casa Civil - esse cargo que tantos problemas lhe tem trazido desde então, sem que a senhora os solucione - e foi enviada para o Rio para exibir a imagem de "fazedora" e "gestora", de mãe do PAC, etc. e tal. Deu certo: a senhora foi eleita e essa imagem ajudou muito, inclusive nos elogios que vem recebendo ao ser comparada com o antecessor, que não era exatamente chegado a tomar decisões técnicas.
O Pan transcorreu sem maiores dramas, mas foi por pouco. Equipamentos não ficaram prontos, o acesso não era dos melhores, as medalhas criaram a ilusão de que o Brasil seria em breve uma potência olímpica. Mais importante: o superfaturamento de muitas obras bateu muito mais recordes. Para piorar, até hoje ninguém o explicou, ninguém foi punido; e quem estava no poder continua ali, sorrindo aos sete mares. Isso causa um temor mais do que plausível de que na Olimpíada de 2016, no mesmo Rio, apesar de já ter parte da infraestrutura esportiva, o resultado não seja muito melhor, a começar pelos transportes.
Mas não é da Olimpíada que quero falar, e sim da Copa do Mundo de futebol, aquela que a seleção brasileira já venceu cinco vezes. Se a senhora viu ou leu pelo menos o resumo da primeira rodada do Campeonato Brasileiro, pode ter ficado animada com os nomes que vêm despontando, nomes como Lucas, Neymar, Ganso, Bernardo, Wallyson e tantos outros que poderão honrar essa amarelinha daqui a três anos (até porque dividindo campo e experiência com jogadores como Ronaldinho, Luís Fabiano e Juninho Pernambucano), mesmo que daqui até lá tenham partido para a Europa e outros continentes. Mas essa expectativa não pode ser desculpa para tudo que vem acontecendo.
A senhora sabe a que "tudo" me refiro. A imprensa noticia frequentemente os descasos e abusos relacionados não só às reformas e construções dos estádios, mas a uma série de outros problemas como o dos aeroportos - os quais, para variar, querem resolver à base do improviso, transformando contêineres em áreas de embarque... Quanto aos estádios, não é que nós, cidadãos, vamos passar vergonha: nós já estamos!
Que a reforma do Maracanã custe R$ 1 bilhão e esteja com o ritmo tão atrasado - e, como já escrevi e a senhora bem sabe, a pressa é amiga da corrupção - nos enche de constrangimento. Que São Paulo não vá participar da Copa das Confederações em 2013, correndo o risco de ter um estádio pronto em cima da hora para 2014 - o do Corinthians, em Itaquera, também ao custo de quase R$ 1 bilhão - é outro vexame. Nem na África do Sul as coisas foram tocadas com tanta ineficiência e suspeição.
Isso para não falar do atraso em quase todas as outras sedes e o fato de que algumas delas, como Cuiabá e Natal, não têm expressão para usufruir as tais "arenas" depois. Também nem vou mencionar as seguidas acusações que pesam sobre os negócios da CBF com a Fifa, já que a entidade sempre alega ser independente do poder público, ainda que ganhe tanto dinheiro com os símbolos e as paixões nacionais.
Mas o que digo é: se a senhora se vale tanto da imagem da "gerente", quando é que vai intervir nessa situação e lhe dar um rumo decente? Tenho certeza de que a maioria não quer apenas uma dúzia de estádios a ser usada por quatro semanas no "país do futebol": quer sentir que seu dinheiro, ainda mais em tal proporção, foi bem utilizado, com benefícios - senão sociais e turísticos - ao menos para a imagem do Brasil, que Lula tantas vezes disse estar "quase lá", à porta do tal primeiro mundo. A continuar assim, vai bater a cara.