Carta Maior: Malvinas, colonialismo e soberania
Política

Carta Maior: Malvinas, colonialismo e soberania


Carta Maior

A decisão do governo britânico de explorar petróleo e gás nas Ilhas Malvinas reaviva tensões entre a Argentina e o Reino Unido, 28 anos depois da guerra travada entre os dois países por esse arquipélago do Atlântico Sul.

Gilson Caroni Filho

A política internacional costuma ser uma estranha combinação de dramaticidade e de tédio, deslocando-se de uma excitante promessa de mudança para uma triste perspectiva de monotonia. De forma recorrente, trafega-se de conhecidas petições sobre “sinceros desejos de uma nova ordem mundial sustentável" para reiterações de hegemonismos e Destinos Manifestos. Enquanto analistas buscam fornecer conceitos atualizados de Estado e soberania, a realidade continua sendo moldada pelo antigo conceito de imperialismo: aquele que era definido como expressão de uma fase monopolista do capital.

A decisão do governo britânico de explorar petróleo e gás nas Ilhas Malvinas, reavivando tensões entre a Argentina e o Reino Unido, 28 anos depois da guerra travada entre os dois países por esse arquipélago do Atlântico Sul, reafirma o léxico colonialista que faz tábua rasa das resoluções da ONU. A conhecida virulência do antigo império, sempre amparado no apoio dos Estados Unidos, não afronta apenas o povo argentino. Para além das fortes evidências de uma rica província de hidrocarbonetos na região, o que está em xeque é a soberania da América Latina. Elaborar estratégia para a defesa de suas riquezas energéticas, como o pré-sal brasileiro, é imperativo e inadiável.

Como denunciou a presidente Cristina Kirchner, “não é aceitável que as regras do mundo não sejam iguais para todos. As Nações Unidas podem tomar medidas, inclusive de força, contra países que não cumprem certas normas, mas quando são os poderosos que não as cumprem, nada acontece. A permanência de um enclave colonial não tem sentido". Afirmar que tudo não passa de “um assunto de política interna tanto para Cristina quanto para Gordon Brown" é jogar cortina de fumaça sobre questões mais profundas. Trata-se de, agindo com má-fé, estabelecer paralelos equivocados entre o passado e o presente.

Se, em 1982, o desespero foi o conselheiro que inspirou a ditadura militar a um salto no vazio, isto é, a ocupação das Malvinas, o que hoje move o governo argentino é a preservação de um espaço político soberano. Não há um general Galtieri tentando abrir um caminho para escapar do beco sem saída, mas uma presidente eleita reivindicando legítimos direitos nacionais. Um país renascido diante da recuperação de suas liberdades e consciente da importância da autodeterminação.

Não há solução de "meio-termo" quando a ofensiva imperialista não esconde mais seus objetivos. O golpe em Honduras, a ofensiva dos grandes proprietários na Argentina, a ação desestabilizadora da direita paraguaia, e as bases militares na Colômbia e no Panamá são fatos por demais suficientes para afastar a perigosa inércia analítica. Aquela que ignora, entre outras coisas, a crescente militarização das relações dos Estados Unidos com a América Latina.

As Ilhas Malvinas e suas adjacências são argentinas. Devem ser descolonizadas e reintegradas ao país. Têm que ser liberadas da ocupação estrangeira que se propõe a explorar suas riquezas e, provavelmente, instalar bases militares apontando para toda a América Latina e seu projeto de integração regional.

A luta deve prosseguir no plano político, diplomático, e em todos os terrenos apropriados, até a definitiva recuperação do arquipélago. É preciso afrontar todas as responsabilidades exigidas para o cumprimento de um programa de ação democrática e antiimperialista.

Não nos iludamos. Os piratas ingleses fazem parte de uma missão precursora no Atlântico Sul. A gravidade da situação obriga a coordenação no esforço de todos os partidos democráticos e populares para uma ação em conjunto com as correntes militares dispostas a não abdicar na luta contra o colonialismo.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil



loading...

- Escócia Pode Deixar Reino Unido, Mas Não A Grã-bretanha; Veja Diferença
Escócia vota se vai deixar de fazer parte do Reino Unido nesta quinta (18). País também faz parte da Commonwealth, a Comunidade Britânica. A Escócia realiza nesta quinta-feira (18) um referendo para decidir sua indepência do Reino Unido. Mesmo...

- Presidente Da Oab Diz Que Exemplo Da Argentina Ao Abrir Arquivos Deveria Ser Seguido
Do JB on line:"O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, afirmou nesta quinta-feira que a decisão da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de abrir os arquivos confidenciais referentes à atuação das Forças Armadas...

- Está Correto O Apoio Do Brasil à Argentina Sobre O Conflito Das Malvinas
Conselho, nova embaixada e Malvinas estreitam laços com Argentina Durante encontro oficial entre as presidentas Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, Brasil e Argentina instalam conselho empresarial para buscar acordos que ajudem setor privado a ampliar...

- Independência: Líderes Planejam Novo Organismo Regional, Sem Eua
A 2ª Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe, que reúne 33 países em Cancun (Caribe mexicano), começou nesta segunda-feira (22) com uma participação histórica de líderes e com o objetivo principal de consolidar a integração regional...

- Do Pirata Francis(co) Drake, Até Ao Pirata Das Mentes Francisco
Estou tão enjoado desta gente sanguinária dos barcos que invadem o nosso país, desrespeitam o nosso modo de viver, roubam-nos os empregos, tomam posse das nossas terras! desrespeitam as nossas leis, organizam bandos de criminosos, traficam drogas para...



Política








.