Celso Ming - Há governo
Política

Celso Ming - Há governo


Desta vez há governo. E as autoridades chegaram ao talo da crise, pelo menos na sua manifestação atual: a enorme insuficiência de capital dos bancos.

E foi o governo trabalhista inglês o primeiro a entender a natureza do problema. Os demais pacotes salvadores tratam agora de aplicar a solução de Gordon Brown. Além de reforçarem o patrimônio dos bancos, garantem os empréstimos interbancários e os depósitos dos correntistas, sem olhar demais para quantos bilhões a megaoperação vai custar. O resto se verá depois.

Não dá para dizer que o jogo virou, porque novos desdobramentos poderão acontecer. Isso aí é como a cebola: tira-se a casca de cima, tem outra logo embaixo. Mas já há coisas a aprender:

Lição nº 1, banco importante não pode quebrar; a maior barbeiragem das autoridades americanas nessa crise foi deixar afundar o Lehman Brothers. O mercado global ficou imediatamente ameaçado.

Lição nº 2, quando a crise é de confiança, o contra-ataque tem de ser predominantemente político. Nessas horas, não basta despejo aleatório de dinheiro. Garantias proporcionadas por autoridades que inspirem confiança são até mais importantes.

Lição nº 3, numa economia global, as intervenções não podem ser locais, têm de ser globais. Não bastou, por exemplo, que o governo inglês tivesse acertado mais que os outros. Os acertos têm de ser globalizados.

Embora globalmente coordenadas, as aplicações de soluções nacionais deverão acentuar diferenças entre os bancos. Haverá aqueles que serão mais salvos do que os outros. E, mais à frente, aumentarão sua competitividade diante da concorrência local e global. Os bancos mais contaminados pela crise serão justamente os mais beneficiados pela farta irrigação dos recursos públicos. Mas não há opção melhor nessa hora. Não dá para montar relógio em meio à tempestade.

A estatização ao menos temporária de grande número de bancos vai exigir contrapartidas: mais regulação e instituições globais com mandato para supervisionar bancos e instituições financeiras não bancárias, como bancos de investimento, seguradoras, agências de análise de risco e até fundos de hedge.

"Agora somos todos keynesianos." É uma das frases atualmente mais repetidas. Pressupõe que até agora os mercados estiveram de mãos livres para aprontar barbaridades e que, depois dos estragos, se penduram na generosidade do Estado salvador, sem escrúpulos na pilotagem dos cofres públicos.

Quanto a isso, é preciso lembrar de que o desastre não teria acontecido se os Estados nacionais não tivessem sido tão perdulários (tão keynesianos) nos últimos dez anos. As grandes potências econômicas, a começar pelos Estados Unidos, operaram déficits monumentais que puxaram a dívida americana - que dobrou no governo Bush - para US$ 10 trilhões, magnitude jamais vista antes.

E, por meio de seus bancos centrais, produziram os juros mais baixos da história recente e, dessa maneira, despejaram a mais impressionante fartura de dinheiro nos mercados.

Foram todos keynesianos, antes e agora.

Injeção - À medida que leiloa dólares e derruba as cotações, o Banco Central retira reais do mercado. Para evitar a falta de reais, reduziu ontem as exigências do depósito compulsório dos bancos. Até R$ 100 bilhões podem irrigar os mercados.



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