Celso Ming -Mudar o paradigma?
Política

Celso Ming -Mudar o paradigma?


O Estado de S. Paulo - 17/03/2011


Sempre que acontece um desastre como o de Fukushima, brotam em todo o
mundo advertências de que os recursos do planeta Terra são finitos e
que é preciso mudar drasticamente os padrões de consumo sob pena de
colapso da economia mundial.

Antes mesmo do primeiro grave acidente nuclear, em Three Mile Island,
em 1979, nos Estados Unidos, a obra Limites do Crescimento, publicada
originalmente em 1972 por Dennis L. Meadows - histórico membro do
Clube de Roma (fundado em 1968 pelo italiano Aurelio Peccei) -
advertia para o esgotamento iminente do suprimento das matérias-primas
e das fontes de energia. Não foi iminente, ainda não houve esgotamento
e talvez nem haja. De lá para cá, muita coisa adiou esse apocalipse.
Mais reservas foram encontradas, materiais escassos foram substituídos
e a reciclagem cumpre o seu papel.

Em todo o caso, a advertência não foi esquecida. Como também não
consegue ser inteiramente arquivada outra advertência, a do biólogo
americano Edward Osborne Wilson, feita no início deste século:
"Precisaríamos de mais quatro planetas Terra se for para sustentar
toda a população do mundo aos padrões de consumo dos Estados Unidos".
Esses e outros são os alarmes que ressurgem de tempos em tempos,
quando algo sério acontece e chama à atenção para a finitude dos
recursos dispostos ao predador humano.

Desde a Revolução Industrial do século 18, o consumo de energia no
mundo passou a ser intensivo e vai crescendo a uma proporção superior
a 2% ao ano.

Apesar da pregação intensa dos conservacionistas, a economia global
não quer saber de mudanças de paradigma nos atuais padrões de consumo
e, tampouco, de energia. Todos querem mais acesso à renda e à riqueza.
Os dirigentes do mundo não falam em outra coisa senão em crescimento
econômico e de emprego.

Até mesmo as lideranças das antigas esquerdas insistem em que mais
gente tem de ser resgatada do submundo da pobreza e da exclusão. E
isso, em princípio, requer mais e mais energia. Seria preciso que algo
de muito grave acontecesse para que o mundo se dispusesse a viver em
condições mais sustentáveis.

De todo modo, a partir desse acidente, cuja gravidade e desdobramentos
ainda não são conhecidos, é de esperar agora que muita coisa mude.

Como os especialistas já vêm afirmando nas primeiras análises depois
do que começou a acontecer em Fukushima, as atuais plantas nucleares
em operação no mundo terão de ser revistas e novos projetos serão
reforçados. Está ficando claro, também, que não vai dar para
substituir na velocidade esperada a produção de energia elétrica por
queima de fontes fósseis (petróleo, carvão e gás natural), hoje
responsável por 71% da matriz energética global. No mínimo, a energia
ficará crescentemente mais cara. No início de março, o ministro para o
Desenvolvimento Internacional da Inglaterra, Alan Duncan, antevia o
petróleo a US$ 200 por barril apenas com o agravamento da crise da
comunidade islâmica. Se estiver certo, a economia mundial terá também
de enfrentar um novo surto de inflação.

Outro projeto global que pode ficar ameaçado é o do carro elétrico. De
que adiantará eliminar a produção de gases poluentes pelo escapamento
dos carros se a produção de energia elétrica a ser consumida nos
motores emitir os mesmos gases pelas chaminés das termoelétricas a
carvão ou a óleo combustível?

CONFIRA

Só no mês que vem
No Centro-Sul, a safra da cana-de-açúcar só começa em fins de abril.
Até lá, é baixa a probabilidade de que os preços do álcool se reduzam
naturalmente para o consumidor.

Retificação
O frigorífico Mafrig não recebeu R$ 232 bilhões em financiamentos do
BNDES, como saiu na Coluna de ontem. Recebeu R$ 232 milhões.




loading...

- A Escalada Do Petróleo - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 25/02/12 Desta vez é o Irã. Só em fevereiro, os preços do petróleo medidos tanto pelo tipo Brent, formados em Londres, quanto pelo West Texas Intermediate (WTI), definidos em Nova York, subiram perto de 11%...

- Obama Aciona As Reservas Celso Ming
- O Estado de S.Paulo Por iniciativa do governo Barak Obama, os países industriais sócios da Agência Internacional de Energia, diante da quebra das exportações da Líbia, decidiram liberar 60 milhões de barris (de 159...

- José Goldemberg O Acidente Nuclear Do Japão
O Estado de S. Paulo - 21/03/2011Existem hoje cerca de 450 reatores nucleares, que produzem aproximadamente 15% da energia elétrica mundial. A maioria deles está nos Estados Unidos, na França, no Japão e nos países da ex-União...

- Adriano Pires O Monopólio Da Petrobrás No Setor Elétrico
O Estado de S. Paulo - 17/03/2011Na última década, a Petrobrás partiu para uma integração entre gás e energia elétrica, investindo na construção de um parque gerador que garantisse segurança energética...

- Tá Na Hora De Pôr O Pé No Chão Adriano Pires
O Estado de S. Paulo - 09/02/2011Nos últimos dias vimos nos jornais uma deliberada colocação quanto à anteposição entre duas das melhores fontes de energia do nosso país - nuclear e hidrelétrica - entre tantas outras,...



Política








.