Cinema O Menino do Pijama Listrado
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Cinema O Menino do Pijama Listrado


BÊ-Á-BÁ DO HOLOCAUSTO

O Menino do Pijama Listrado quer falar de mansinho do extermínio de judeus na II Guerra. Mas só consegue trivializar e falsificar


Isabela Boscov

Divulgação
SÓ ELES NÃO SABEM
Bruno, o filho do nazista, e Shmuel, o menino judeu: inocência

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Bruno (Asa Butterfield) tem 8 anos e vive feliz e despreocupado em Berlim, apesar da tensão da guerra e da profusão de suásticas nas ruas e também dentro de sua casa aconchegante e luxuosa – seu pai (David Thewlis) é um comandante nazista, e dinheiro e ideologia não faltam à família. Papai, entretanto, ganha uma promoção, e leva a mulher, Bruno e sua irmã para morar perto de uma "fazenda" cercada de arame farpado, onde perambulam "fazendeiros" esqueléticos e de cabeça raspada. Bruno não está feliz com a austeridade da nova casa, com as respostas evasivas às suas dúvidas e com a falta de amigos. Esse é o problema que ele mais facilmente resolve: andando pela mata próxima até a suposta fazenda, Bruno faz amizade com um menino que, como os outros "fazendeiros", veste o que ele julga ser um pijama listrado – o uniforme dos campos de concentração. Separados pela cerca, eles brincam e trocam impressões, sempre incompletas: também o pai de Shmuel (Jack Scanlon) tenta poupá-lo de entender que lugar é aquele, e o que acontecerá com eles ali. O enredo de O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pajamas, Inglaterra/Estados Unidos, 2008), que estréia nesta sexta-feira no país, pode até soar engenhoso – como uma reflexão sobre a inocência num momento em que ela desapareceu da face da Terra. Mas sua execução sentimental e esquemática o transforma em algo completamente diferente: uma falsificação do que é a inocência e, mais ainda, a culpa. Num efeito colateral que só se pode supor involuntário, o filme se presta inclusive a ser visto como uma alegoria sobre a pretensa ignorância dos alemães comuns a respeito da perseguição e do extermínio de judeus – uma tese que volta e meia algum revisionista tenta repropor, e que numerosos historiadores já demoliram.

A abertura dos campos de extermínio, em 1945, jogou sobre a filosofia do século XX uma das suas questões mais extremas: como dar conta de tanto horror, e de tanta capacidade humana para o mal. A profusão de material jornalístico e ficcional que, mais de sessenta anos depois, continua a se produzir sobre o holocausto reitera que não existe resposta – e que reformular a pergunta repetidas vezes permanece, portanto, urgente. Na prática, porém, nem todas as abordagens resultam igualmente válidas. E, quanto mais a II Guerra recua na memória, mais surgem experimentos dúbios, como A Vida É Bela, do italiano Roberto Benigni, e Trem da Vida, do romeno Radu Mihaileanu, ambos exemplos recentes de que holocausto e fantasia dificilmente dão boa rima. O Menino do Pijama Listrado, contudo, vai alguns passos além. A despeito do que parece ser a boa intenção do filme baseado no best-seller do irlandês John Boyne e dirigido pelo inglês Mark Herman – apresentar ao público infanto-juvenil, bem de mansinho, os horrores da "solução final" de Hitler –, ele só faz confirmar que esse é um tema que não comporta atenuação. O que era horrível permanece horrível, e não se tornará trivial.

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