SÃO PAULO - Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tomado de aparente ira santa, em cerimônia-comício no Rio de Janeiro: "O que aconteceu com o famoso mercado onipotente? Quando o mercado tem uma diarréia, quem eles chamaram para salvá-lo? O Estado que eles negaram durante 20 anos".
De texto assinado pelo mesmíssimo Lula, após a cúpula do G20 no mês passado em Washington: "Nosso trabalho [dos líderes do grupo] será guiado por uma crença compartilhada de que os princípios de mercado, de livre comércio e regimes de investimento abertos, e mercados financeiros efetivamente regulados, estimulam o dinamismo, a inovação e o empreendedorismo que são essenciais para o crescimento econômico, o emprego e a redução da pobreza".
Não há, pois, o menor parentesco entre o que diz o presidente em público e o que assina no escurinho do cinema, bem ao lado do "eles", o sujeito oculto de sua primeira frase -no caso, os líderes mundiais que transformaram em religião a crença no livre mercado.
O comício do Rio é, pois, retórica vazia, engana-trouxa.
No comício do Rio, Lula deu a entender que está havendo uma recuperação do Estado, "negado durante 20 anos". Engano. O que está havendo é o de sempre: a privatização do dinheiro público e a estatização do risco. Nada que não tenha acontecido desde que os mercados se tornaram "onipotentes".
O Estado dá dinheiro, mas não tem o comando do que fazem com ele. Tanto que o próprio Lula se sentiu compelido a reclamar, também publicamente, de que os bancos não estavam soltando o dinheiro liberado pelo governo. Foi desmentido no dia seguinte por Fabio Barbosa, presidente da Febraban, e enfiou a viola no saco.
Enfim, nada de novo na retórica de Lula; apenas o retorno às bravatas do passado. Inócuas.
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