Comércio cresce, mas pouco Alberto Tamer
Política

Comércio cresce, mas pouco Alberto Tamer


O Estado de S.Paulo

O comércio mundial voltou a crescer este ano, mas com dupla distorção. Está sendo sustentado pelos países emergentes e se baseia muito no aumento do comércio de commodities e produtos básicos feito, principalmente, entre eles.

Os países ricos vêm concentrando as exportações em produtos industrializados ou semimanufaturados, de alto valor agregado, ao contrário das commodities. Elas pesam muito, principalmente, nas exportações brasileiras, pois, mesmo com o recuo desta semana, continuam com preços altamente valorizados.

O Brasil não está aproveitando a recuperação do comércio mundial nos últimos meses, após o debacle da recessão. Pode ser uma oportunidade perdida, pois, com o crescimento nos países ricos desacelerando, não se espera que essa recuperação comercial ganhe impulso nos próximos meses.

Nesse quadro de acomodação, o Brasil vem cometendo o erro tático de substituir países importadores de produtos industrializados pelos compradores de matérias-primas. A China em lugar dos Estados Unidos. E apresenta isso como se fosse um grande sucesso. Continua exportando couro para a China e importando sapatos; vendendo petróleo e minério e importando equipamentos que deixam de srr construídos no País.

São os resquícios de uma diplomacia terceiro mundista equivocada, na qual os países menos desenvolvidos devem ser nossos principais parceiros comerciais, mesmo que não importem produtos de valor agregado.

Cresce mas nem tanto. Dados da Organização Mundial do Comércio desta semana mostram que o comércio mundial se recuperou só em parte da queda de 2008 e 2009. As importações mundiais aumentaram em 21%. Parece muito, mas ainda não compensa a queda de 23% em 2009.

Importam pouco. Nos EUA, o maior mercado consumidor mundial, as importações em 2009 caíram 25%. No ano passado, se recuperaram com alta de apenas 23%. Portanto, os EUA não voltaram aos mesmos níveis de importação de antes da crise.

A zona do euro também registrou queda de 25% nas importações em 2009. Mas teve uma recuperação de 24% um ano depois. O bloco também não se recuperou plenamente. É uma situação delicada, pois grande parte desse aumento se deve ao comércio inter-regional, hoje desacelerando.

O Japão seguiu o mesmo padrão. Cortou as importações em 28%; Quando voltou a importar, aumentou as compras em 25%, abaixo do corte.

Os emergentes. A história nos países emergentes é bem diferente. As importações caíram com a recessão mundial, mas a recuperação foi maior e mais rápida. A China reduziu fortemente as importações em 2009, menos de 11%. Mas em 2010 registrou alta de 39%. Não só recuperou como avançou.

Em outro emergente, a Índia, houve uma queda de 20% em 2009. Mas no ano seguinte registrou alta de 25%.

As importações do Brasil caíram 27% em 2009. Mas, no ano passado, a recuperação foi de 43%.

Os dados da OMC confirmam que o comércio mundial apenas se recuperou graças à retomada de importações pelos emergentes.

O caso da Alemanha mostra com mais clareza esse quadro de retração dos países ricos e a rápida recuperação dos emergentes. Entre 2009 e 2010, as exportações de carros subiram 25%, chegando a US$ 199 bilhões. Mas para a China a alta foi de 50%. Em 2009, as exportações de carros da Alemanha para o mundo tinham caído 34%. Mas para a China aumentaram 12%. A China passou a ser em dois anos o terceiro maior destino de carros alemães, superada apenas por EUA e Reino Unido.

O futuro? É que os países ricos devem continuar exportando mais e importando menos. E assim mesmo, principalmente, matérias-primas ou produtos semimanufaturados. Não há perspectiva de mudança em curto prazo. É preciso crescer para fora para sair da crise. E os outros, como o Brasil, que se acomodaram no sono agradável da primarização, acabarão perdendo. / COLABOROU JAMIL CHADE 




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