Compensações do câmbio - CELSO MING
Política

Compensações do câmbio - CELSO MING



O Estado de S.Paulo - 17/11


O tambor produz sempre o mesmo som. Ele repete, repete, repete e é necessário que seja assim.

E uma das observações que precisam ser repetidas tem a ver com a função que o câmbio exerceu e ainda exerce na economia brasileira.

Relegado às suas condições, na história recente, raras vezes o setor produtivo foi competitivo. Enfrenta crônica incapacidade de vender mais barato, aqui e no exterior.

Por isso, quando a produção tendia ao encalhe por sair cara demais, o setor privado reivindicava e o governo federal dava mais câmbio; sempre promovia a desvalorização da moeda nacional. Essa manobra cumpria a função de encarecer o produto importado em moeda nacional e baratear em moeda estrangeira o exportado. O setor produtivo sempre dependeu dessa bengala. E continua com as mesmas reclamações por mais câmbio e por mais desvalorização da moeda nacional para garantir seu faturamento aqui dentro e lá fora.

Até há alguns anos, a falta de competitividade do produto brasileiro estava associada à baixa eficiência administrativa e ao baixo nível tecnológico dos sistemas produtivos do Brasil. Eram empresários despreparados, apegados a métodos tradicionais de governança do seu negócio. Mas isso mudou. Em todos os segmentos, o produtor brasileiro incorporou o melhor do estado da arte no gerenciamento dos seus negócios. Além disso, mal ou bem, todos os anos, avanços tecnológicos vêm sendo incorporados ao sistema produtivo brasileiro.

Hoje, a baixa competitividade das empresas do País é o resultado do alto custo Brasil, sobretudo da enorme carga tributária, da precariedade e do custo elevado da infraestrutura, da energia elétrica cara demais, dos enormes encargos trabalhistas... A lista é enorme e sobejamente conhecida.

O problema é que a economia brasileira está se estruturando de tal maneira que será muito difícil prosseguir compensando com desvalorização cambial a baixa competitividade do setor produtivo nacional.

É inevitável, por exemplo, que, dentro de cinco ou seis anos, o Brasil se transforme em grande exportador de commodities, especialmente de minérios, petróleo e alimentos. A entrada de moeda estrangeira será maior do que a saída. Além disso, a enorme propensão ao consumo em detrimento do investimento tornará a economia brasileira altamente dependente do afluxo de capitais de longo prazo. Mais recursos externos entrando do que saindo implicam alta das cotações do dólar e demais moedas estrangeiras. Ou seja, o sistema produtivo terá de conviver com uma moeda nacional relativamente valorizada em relação às demais moedas fortes.

Mal acostumada com compensações cambiais, a indústria terá de se preparar para enfrentar o novo jogo e isso exigirá enorme incorporação de tecnologia. Mas essa é a parte que cabe ao setor produtivo. Mesmo a indústria mais eficiente não terá como sobreviver ao câmbio mais valorizado, se o governo federal não tratar de derrubar o custo Brasil.

E, para isso, será necessário adotar as reformas que há tantos anos estão engavetadas: a tributária, a trabalhista, a da Previdência, a do Judiciário e a política - sem falar do desenvolvimento do mercado de capitais e do aumento da qualidade da educação. É esse o som do tambor que tem de ser ouvido de norte a sul do Brasil.




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