A divulgação dos números da economia brasileira em 2011 provocou um pequeno terremoto. No governo, o crescimento do PIB abaixo das previsões otimistas mantidas ao longo do ano deixou a clara sensação de frustração.
Esse gosto amargo ampliou-se à medida que as críticas ao desempenho da economia chegaram à imprensa. "Pibinho", escreveram uns; "PIB raquítico", qualificaram outros analistas, enquanto a oposição chamou a atenção para o fracasso do governo Dilma em seu primeiro ano gerindo a economia brasileira.
A comparação com um crescimento de mais de 7% em 2010, último ano do período Lula, foi usada como prova do insucesso do novo governo. Segundo a imprensa, a presidente Dilma cobrou de seus ministros medidas mais agressivas para que a decepção de agora não se repita em 2013, quando os resultados do PIB deste ano forem divulgados.
Na imprensa especializada, as análises se concentraram nas entranhas da economia no ano passado, ressaltando o desempenho pífio da indústria de manufaturas, na queda dos investimentos ao longo do ano e na medíocre taxa de poupança da sociedade. Como sempre, foram fartos os ensinamentos de como fazer para se retomar o crescimento em 2012 usando mecanismos administrativos como taxas de juros do Copom e medidas adicionais para enfraquecer nossa moeda.
Vejo os números divulgados pelo IBGE sob outra perspectiva. Para mim, eles representam uma realidade que foi sendo construída ao longo do ano devido a fenômenos intrínsecos à nossa economia e a acontecimentos que se deram fora do Brasil. Para quem -como eu- fez do acompanhamento da economia sua profissão, os números desta semana não causaram, portanto, nenhuma surpresa.
O primeiro deles foi o incrível choque de oferta que ocorreu na virada de 2010 nos mercados de produtos agrícolas. Os preços chegaram a subir 30% em dólares, impactando diretamente a inflação no Brasil.
Duas consequências dessa alta de preços se deram ainda no início do segundo trimestre do ano e nos levaram a um PIB mais fraco em 2011: os salários foram corroídos pela inflação de alimentos, e o Banco Central pisou no frio monetário, subindo os juros e restringindo o crédito ao consumo.
E a economia começou a desacelerar pelo canal do consumo das famílias, que, no Brasil, representa mais de dois terços do PIB.
Pouco mais à frente, com o agravamento da crise das dívidas soberanas na Europa, um choque negativo das expectativas atingiu os empresários no Brasil e reduziu seu apetite para correr riscos. A reação -normal nesses momentos- foi a de pisar no freio dos investimentos.
No início da segunda metade do ano, esse quadro começou a mudar, com a queda dos preços dos alimentos no exterior e a natural redução da inflação. O poder de compra dos trabalhadores voltou a crescer e o Banco Central iniciou uma política de afrouxamento das condições monetárias, fazendo com que o consumo das famílias fosse estimulado.
Mas já era tarde para 2011, e a aceleração do crescimento econômico -já contratado- deve ficar para este ano. Ele será puxado pelo consumo e reforçado, a partir do meio do ano, pela volta mais agressiva dos investimentos privados. Na passagem de 2012 para 2013, o "Pibinho" de agora deve se transformar em um "Pibão" de mais de 5% ao ano.
Essa minha leitura da economia para os próximos meses me obriga a uma nota de cautela em relação à aceleração da queda dos juros por parte do Banco Central, decidida na mais recente reunião do Copom.
Um excesso de estímulo monetário agora só chegará à economia no último trimestre do ano, quando -se eu estiver certo- estaremos trabalhando acima da capacidade da economia e criando condições para uma aceleração perigosa da inflação.
O governo deveria ter mantido a calma e esperar que os tempos melhores, que certamente virão, resgatem a economia.
Perdendo a calma e tomando medidas agressivas agora, o governo pode criar grandes dissabores no campo da inflação em 2013.