Crise A bancarrota da indústria automobilística dos EUA
Política

Crise A bancarrota da indústria automobilística dos EUA


FALTOU CAPITALISMO

A concordata da Chrysler demonstra o custo dos
anos de privilégios da indústria automobilística americana


Benedito Sverberi

Stan Honda/AFP

CRISE ANUNCIADA
Protesto de funcionários em Detroit: dívida impagável



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As fabricantes de carros dos Estados Unidos – General Motors, Ford e Chrysler – já foram o símbolo mais cintilante do dinamismo americano. Mas anos seguidos de má administração arruinaram as finanças das "Três Grandes de Detroit". Mesmo fazendo bons veículos e mantendo-se entre as maiores montadoras do planeta, essas empresas deixaram de dar lucro. Por mais que vendam carros, o dinheiro é dragado por um passivo gigantesco criado pelos privilégios que elas concederam, nos últimos cinquenta anos, a seus funcionários e aposentados. Desde o início da década passada, as três só conseguem se manter em atividade em grande parte graças a incentivos do governo. Mas essa política, um corpo estranho nas entranhas do liberalismo americano, parece ter chegado ao limite. Depois de um ultimato do presidente Barack Obama, a Chrysler não conseguiu chegar a um plano viável para honrar suas dívidas e entrou em concordata. A empresa selou também uma parceria com a italiana Fiat, na tentativa de produzir carros mais eficientes e baratos. Depois da concordata da Studebaker, em 1933, no auge da Grande Depressão, é a primeira vez que uma grande empresa do setor vai à bancarrota nos Estados Unidos. E esse poderá também ser o destino da General Motors, que estuda pedir concordata em breve.

Desde a invenção da linha de montagem por Henry Ford, há um século, a indústria automobilística foi uma das líderes na transformação dos EUA em potência mundial. Ela esteve também no centro do desenvolvimento da classe média e na expansão do mercado consumidor no país. Mas o gigantismo conduziu a privilégios que agora são letais. No passado, a política de atrair funcionários levou à concessão de salários elevados, que causavam inveja entre os trabalhadores de outros setores. Os empregados tinham ainda o direito de se aposentar com altas pensões e com planos de saúde vitalícios. Esses custos se revelaram excessivos quando Detroit passou a enfrentar a concorrência das marcas asiáticas. Hoje, um veículo produzido pela GM traz embutidos 1 000 dólares em despesas de saúde dos funcionários, enquanto na Toyota esse valor é de 215 dólares. Os benefícios fazem com que o custo da hora trabalhada por um funcionário da empresa americana seja 65% maior do que na japonesa (veja o quadro).

Ao comentar o pedido de concordata da Chrysler, Obama afirmou: "A empresa foi muito devagar ao se adaptar ao futuro, projetando carros que eram menos populares, menos confiáveis e menos eficientes no consumo de combustíveis que seus competidores". É verdade. Mas é verdade também que, assim como a GM, ela privilegiou o corporativismo em detrimento da inovação e da rentabilidade. Nada menos capitalista do que isso.




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