Culpas de parte a parte
Política

Culpas de parte a parte


A ruptura agora formalizada entre o BE e Sá Fernandes é apenas a consequência de um mal-estar que há muito se fazia sentir. E, à semelhança de muitos divórcios, torna-se difícil concluir quem foi o principal responsável.

O incómodo do BE relativamente à coligação de Lisboa fez-se sentir apenas três meses depois do executivo ter tomado posse. Para o efeito, basta lembrar este incidente na Assembleia Municipal em Novembro do ano passado em que se mostrou desde logo alguma desarticulação entre os deputados municipais do partido e o vereador eleito.

Em Março deste ano, para surpresa da opinião pública, Louçã anunciou que a coligação em Lisboa não se iria repetir em 2009. Importa sublinhar que na altura não foram invocadas quaisquer incompatibilidades com Sá Fernandes, mas sim que "os projectos políticos [do BE e do PS] nas legislativas, nas autárquicas e, enfim, na condução da política do país, estão em confronto”. Tal foi feito certamente sem grande articulação com o vereador, uma vez que este veio dizer pouco depois que Lisboa era um “caso em aberto”.

Nos domínios acima, o Bloco não esteve bem na condução de processos que, em última instância, deveriam ter sido melhor acordados com o vereador eleito. A partir de então, as tensões parecem ter-se multiplicado.
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Do lado de Sá Fernandes, a excessiva solidariedade para com o actual executivo municipal, em prejuízo do partido que apoiou a sua eleição, acabou por ditar o presente divórcio. Entre os incidentes mais relevantes, destaca-se o apoio do vereador à posição de Ana Sara Brito no caso das casas da CML. Mais recentemente, a acérrima defesa que Sá Fernandes efectuou sobre a questão do terminal de contentores de Alcântara, à revelia do posicionamento do partido, acabou por consumar a presente ruptura.

Neste contexto, as culpas deste divórcio repartem-se quase igualitariamente pelos “cônjuges”. Sá Fernandes deixou assim de ser o “Zé que faz falta” cuja eleição acalentou fortes esperanças junto de determinados sectores do eleitorado, para passar a ser uma desilusão (ver post de Miguel Portas). O Bloco, por seu turno, falhou a sua primeira grande experiência governativa. Um facto que, pelo seu simbolismo, não deverá ser menosprezado e cujas consequências reflectir-se-ão certamente no posicionamento futuro do partido.

Como é natural, nestas questões de divórcio, os primeiros indícios de lavagem de roupa suja começam a surgir (aqui, aqui e aqui). Enfim... Estranho seria se assim não acontecesse.



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