Dilma caça um boizinho no pasto VINICIUS TORRES FREIRE
Política

Dilma caça um boizinho no pasto VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SÃO PAULO - 15/05/11

Governo recorre a outra terapia alternativa para a inflação e reafirma política econômica "heterodoxa" 

HOUVE NUNS dias deste maio a conversa de que a política econômica de Dilma Rousseff passava por um revertério, aflito que estaria o governo com as notícias porém previsíveis de inflação desgarrada.
A virada estaria evidente, por exemplo, numa mudança de tom do Banco Central, que teria voltado a enfatizar o recurso a juros mais altos, além de outros indícios mais nebulosos, na verdade ectoplasmáticos, de "retorno à ortodoxia".
Mas enquanto esse zunzum ainda zunia, Dilma decidiu caçar uns boizinhos no pasto. O governo resolveu controlar o preço de combustíveis por meio de uma empresa meio estatal, a BR Distribuidora.
"Caçar boi no pasto" é uma referência à iniciativa do governo de José Sarney e do PMDB, em 1986, de procurar escondida nas fazendas a carne que faltava nos mercados. Devido ao fraudulento Plano Cruzado de combate à inflação e seus preços tabelados, houve tanto explosão do consumo como desincentivo ao abastecimento. Faltava carne.
Caçar boi no pasto por um tempo foi metáfora para a atitude de recorrer a populismo em vez de corrigir problemas de fundo na economia.
Fazer "política de preços" em geral cheira a mofo e a cravo de defunto. Note-se com um pouco de sarcasmo histórico que sabe-se pelo menos desde o tabelamento geral de Diocleciano (301 AD), imperador romano, que tal coisa dá em besteira.
Voltando à vaca fria no pasto, não se pode dizer, pois, que um governo dado a controle de preços esteja se arrependendo de ortodoxias recentes, como conter o crédito por meio de medidas administrativas.
No mais, nem o Banco Central mudou sua política, como ficou ainda mais claro em entrevistas e discursos do presidente da casa. Alexandre Tombini tem reafirmado mais ou menos o que dizia a última ata do Copom -vamos esperar como a inflação vai vir para ver como fica a política monetária.
Manter juros altos por um período "suficientemente prolongado", como se dizia lá na ata do BC, pode significar apenas mais uma alta de 0,25 ponto percentual, ficando as taxas nessas alturas até 2012. A política do BC parece "data dependent": deve reagir a novos indicadores em um cenário muito incerto da economia do mundo e do Brasil.
No curto prazo, essa mistura adúltera de tudo que é a política econômica pode dar certo. Um controle de preços ali, um estrangulamento normativo de crédito aqui, um ajuste fiscal de afogadilho acolá, tudo isso pode esfriar a inflação.
Um pouco de "sorte" ajudaria. Tropeços moderados da economia mundial podem derrubar preços importantes. E a economia está bem mal parada nos EUA e na Europa.
Observe-se ainda que, embora feio, o governo Dilma não está mal acompanhado no que diz respeito ao combate heterodoxo ou esquisitinho à inflação. O mundo quase inteiro está fazendo coisa parecida.
Pode se tratar de um erro universal. Mas há alguns bons motivos no recurso a "terapias alternativas".
Os remendos podem, TALVEZ, ajudar a travessia de um período difícil, curto. Mas não resolvem problemas como escassez de mão de obra e infraestrutura, gasto público excessivo ainda a perder de vista, dívida pública alta, economia indexada, meta de inflação alta demais por tempo demais etc etc. Trata-se apenas de remendos.



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