Diogo Mainardi Como acabei no New York Times
Política

Diogo Mainardi Como acabei no New York Times



"O livro de Rohter é o testemunho de sua
passagem pelo Brasil, em que ele, eu, a giárdia
e o presidente da República somos como
Sylvester Stallone: figurantes de Bananas"

Sylvester Stallone fez uma ponta inglória em Bananas, de Woody Allen. Eu fiz uma ponta igualmente inglória em Deu no New York Times, de Larry Rohter. Na comédia de Woody Allen, Sylvester Stallone é um brutamontes que tenta roubar a bolsa de uma velha de muletas. No livro de reportagens de Larry Rohter, eu sou um colunista que especula desajuizadamente sobre o consumo alcoólico do atual presidente da República, cujo nome, a esta altura, em fim de mandato, já consegui até eliminar da memória. Como é mesmo? Lula! Pronto, lembrei: o nome dele é Lula!

Eu ando incomodado com o New York Times. A cobertura que o jornal fez da campanha eleitoral americana furtou-se cuidadosamente a abordar assuntos que poderiam prejudicar a candidatura de Barack Obama. Larry Rohter foi o correspondente do New York Times no Brasil por oito anos. Ele sabe como é a nossa imprensa. Em Deu no New York Times, ele mostra como, ao contrário do que acontece na imprensa brasileira, a imprensa americana acredita que um governante tem de ser submetido a uma profunda devassa, tanto de sua vida pública quanto de sua vida pessoal, porque "o pessoal é político e o político é pessoal". No caso da cobertura da campanha de Barack Obama, o New York Times e o resto da imprensa americana adotaram um comportamento legitimamente brasileiro. O presidente do Brasil – como é mesmo o nome dele? – dispunha de um esbirro especializado em abafar as matérias comprometedoras de Larry Rohter: Bernardo Kucinski. Barack Obama parece ter um Bernardo Kucinski entranhado danosamente, como uma giárdia, em cada jornal e em cada emissora de TV dos Estados Unidos.

Larry Rohter conhece direitinho o Brasil. Em suas reportagens, ele revelou para os americanos tudo aquilo de que a gente sempre se envergonhou: a bandalheira do PT, o assassinato de Celso Daniel, o cinema novo, o forró, Milton Nascimento. Alguns meses depois de tratar do hábito de beber do presidente da República – Lula! –, motivo pelo qual ele correu o risco de ser chutado do país, perseguido pelo governo e por uma parte da imprensa nacional, Larry Rohter foi ainda mais longe e me chamou de gordo. Na realidade, ele chamou todos os brasileiros de gordos, mas eu o tomei como um insulto pessoal, com meus 6 quilos acima do peso. Em sua reportagem para o New York Times sobre o surto de obesidade detectado pelo IBGE, que contradizia o discurso oficial sobre a fome no Brasil, Larry Rohter denunciou nossa dieta cheia de amidos e outros carboidratos. Ele está certo. A gente come porcamente. A gente é gordo. A gente é mole.

Dois anos depois dessa reportagem, Larry Rohter voltou para os Estados Unidos. Deu no New York Times é o testemunho de sua passagem pelo Brasil, em que ele, eu, a giárdia e o presidente da República – ? – somos como Sylvester Stallone: figurantes de Bananas.




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