Doc Lisboa
Política

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é a América que está ao espelho diz-se este ano do DocLisboa, um evento com o alto patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, do Ministério da Cultura, do ICAM, da CML, RTP, da Sony, Nókia, Citroen, Público, Super Bock, etc. – não é dificil adivinhar na programação a crítica subliminar do grande Capital monopolista contra os extremismos “desta América (como se houvesse outra que não fosse imperialista) – é preciso que a poeira assente, que tudo mude para que novo processo de re-acumulação capitalista se reinicie trazendo para a paz podre da indiferença todos que ficaram cilindrados pelos oito anos da administração Bush – e enquanto isso satisfazem-se os ressentimentos do nicho de mercado de uma minoria de intelectuais “de esquerda”
Paradigmático é que o filme mais importante a exibir, “When The Levees Broke” de Spike Lee sobre o desastre do Katrina em New Orleans, que encerra o festival, seja apenas exibido em sessão única e apenas por convites – não existe um propósito de proceder a uma ampla informação junto de largas camadas do público, tampouco se sabe se o documentário alguma vez terá exibição no circuito comercial em Portugal. E no mundo a obra tem-se limitado a passear por festivais, a concurso de estética. No entanto, o episódio do “furacão Katrina” é mais importante para a compreensão do mundo actual que a própria guerra no Iraque.

Taxi to the Dark Side” de Alex Gibney, sobre Abu Graib abre hoje dia 18 o DocLisboa – acerca das prisões clandestinas e as deportações da CIA Donald Rumsfeld escrevia notas jocosas, perguntando “porque é que os prisioneiros de Bagram ou Abu Ghraib não aguentavam várias horas de pé quando ele aguentava umas oito ou dez por dia” – diz o realizador: “Percebi que os criminosos, e colocaria nessa categoria Cheney e Rumsfeld, têm a capacidade de se iludirem com a ideia de que são inocentes”. Donald Glascoff, o produtor lembra: “Os americanos tornaram-se complacentes. Mesmo sabendo que havia mil prisioneiros sem direitos em Guantanamo, não se preocupavam”. E agora?, o campo foi encerrado? Existem preocupações? ou a tortura foi institucionalizada?
Jesus Camp”, de Heidi Ewing e Rachel Grady, é uma visita desactualizada a um campo de férias cuja fundadora, uma católica evangélica, quer construir um “Exército de Deus” (já referido aqui em 2006). Entretanto o campo religioso, por via da polémica instalada num país que se julgava civilizadamente interdito a extremistas fanáticos, já foi encerrado.

Sicko” de Michael Moore é a denúncia do sistema de saúde norte americano. Veremos se inclui aquela pequena história duma companhia de seguros que negoceia com o acidentado qual dos dois dedos cortados da mão pretende ver reconstruido, uma vez que o valor da apólice só cobria um dedo. Nós por cá também já vamos sabendo dar valor ao que será negociar com os vigaristas dos seguros um rim, ou uma operação cirúrgica, como se de uma peça de automóvel se tratasse. Tanto mais que já vamos vendo nas urgências do SNS médicos contratados a 30 euros por hora fornecidos por empresas de trabalho temporário (24 horas=720 euros).
Num festival gastronómico há comida para todos os gostos. Para descredibilizar “Sicko” temos “Manufactering Dissent”, de Rick Caine e Debbie Melnik, uma denúncia dos métodos utilizados por Michael Moore: “mais do que o diagnóstico que Moore faz da América, a questão hoje é saber se ele próprio não faz parte de uma doença da sociedade americana”. Sintomático; desvaloriza-se o mal, ridicularizando-se os processos utilizados pelo mensageiro.

Por fim, voltando a New Orleans e a “Quando os Diques Rebentamum Requiem em Quatro Actos” de que Spike Lee afirmou ser a obra mais importante de todas que fez até agora – “Não foi o furacão Katrina que destruiu a cidade: foram os diques, quando cederam à força das águas e inundaram grande parte de New Orleans". Filmado logo após o desastre, o filme é um retrato tocante dos efeitos de uma das piores catástrofes que jamais atingiu os Estados Unidos” – o Estado Neoliberal, incapaz de dar resposta à tragédia de milhares de cidadãos de maioria negra cujo inimigo mais feroz foi o seu próprio governo - que tinha retirado grande parte das forças de protecção civil da FEMA desviando-as para comissões na guerra do Iraque, delegando depois o socorro de emergência em empresas de segurança privada; cujo Presidente ao visitar o local da catástrofe nem sequer saiu do avião; do Estado que desde 1998 apesar dos avisos de degradação dos diques alegou sempre não haver verbas disponiveis para manutenção; enfim dos tenebrosos projectos das elites na pior tradição “Dixiecrata” de algum dia reconstruir uma New Orleans sem negros. Enquanto, dois anos depois, salvo uma outra inauguração pontual de fachada, uma Cidade importante “no país mais rico do mundo” permanece praticamente na mesma; enquanto os antigos habitantes foram forçados a emigrar para uma míriade de Estados de onde, em vão, caso a caso, reclamarão judicialmente os seus direitos (na Câmara de Falências, como individuos falidos)

a ler: “Os Dias do Documentário” – num país sem indústria cinematográfica, 10 Dias cheios, 355 vazios - Cátia Salgueiro, no “Le Monde Diplomatique”, edição de Outubro.



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