Política
Dora Kramer Parceria de adversários
Desde que anunciaram a disposição de disputar a eleição presidencial em regime de coalizão formal, o PT e o PMDB só têm feito blefar um com o outro.
Não se pode dizer que seja uma relação fundada na confiança. Até porque a suspeita mútua é explícita.
O PT acha que o PMDB pode pular fora a qualquer momento, se sentir no adversário a possibilidade de um porto mais seguro. O PMDB desconfia que o PT só o chamou à dança para valorizar a candidatura de Dilma Rousseff, e teme ser deixado no meio do salão assim que, e se, a ministra cair no gosto do eleitorado.
Assim que terminou a eleição municipal de 2008, em que naufragou a maioria das tentativas de acordos entre PT e PMDB, o presidente Luiz Inácio da Silva prometeu aos aliados que o mesmo não se repetiria em 2010, pois ele pessoalmente se encarregaria de enquadrar o PT nos Estados.
Blefe. O tempo passou, não houve enquadramento algum e Lula só resolveu a pendência do Rio de Janeiro, tirando o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, do caminho do governador Sérgio Cabral. As outras complicações permaneceram complicadas e o PMDB deu-se conta disso logo.
A fim de se precaver, no segundo semestre do ano passado, a direção do PMDB forçou um pré-acordo segundo o qual o PT se comprometia a reservar a vaga de vice ao partido alegando que, com isso, demonstravam sua fidelidade ao presidente Lula.
Blefe. Na verdade, o que os pemedebistas queriam era afastar a hipótese Ciro Gomes do caminho e assegurar o lugar na chapa nacional com o objetivo de se fortalecer nas montagens das candidaturas estaduais aos governos e ao Senado.
Queriam apressar o processo e produzir o fato consumado.
O PT disse ok. Montou-se um encontro com o presidente Lula e foi sacramentado o acordo em torno do nome do presidente do PMDB, Michel Temer.
Blefe. O que se ouve mais falar no PT é em nomes de outros vices que não do PMDB. Além disso, o presidente Lula pouco depois de consagrado o acerto pediu uma lista com três nomes para escolha. Quer dizer, ignorou solenemente a posição do aliado em favor de Michel Temer.
O PMDB reagiu alegando interferência indevida nas decisões do partido. O PT recuou sob a alegação de que o presidente Lula havia apenas se livrado de uma saia-justa quando lhe perguntaram se preferia Edison Lobão ou Temer para a vaga.
Blefe. Na reunião de ministros, na quinta-feira, Lula repetiu a ideia da lista tríplice.
Menos de 24 horas antes o PMDB havia decidido antecipar de março para fevereiro sua convenção para reconduzir Temer à presidência do partido sob a alegação de que com o partido unido em torno dele fica reforçada sua autoridade para negociar com o PT a vice e estabelecer "regras claras" para as composições nos Estados.
Blefe. Com a realização da convenção, estrategicamente marcada para duas semanas antes do Congresso do PT que consolidará Dilma Rousseff como candidata, o PMDB pretende que sejam explicitados vários aspectos que a direção nacional não pode vocalizar.
Por exemplo, a dimensão da resistência à aliança e o quanto ela poderá ser maior quanto mais o tempo passa e se aproxima a hora de a oposição assumir a candidatura de José Serra.
Nenhum dirigente pemedebista pode dizer isso de público, mas nada impede de os convencionais manifestarem o sentimento do partido de que o PT não tem para onde correr e que no PMDB, embora a tendência seja de ficar com o governo, há alternativa.
Resumindo, lance a lance, ambos pagam para ver o jogo do parceiro. E nesse ambiente de cismas recíprocas é que se firma uma aliança para governar o Brasil.
Tributo
A extinção da CPI do panetone da Câmara Distrital de Brasília não influi nem contribui para a impunidade do governador José Roberto Arruda, porque a CPI existia exatamente para não influir nem contribuir com qualquer possibilidade de punição.
Agora, o juiz que provocou a reação deu uma excelente contribuição: expôs a farsa, estabeleceu um contraponto à desfaçatez, rompeu com a rotina de aceitação às burlas do Legislativo e serviu de exemplo a outros Parlamentos. Inclusive, e principalmente, o nacional.
Nó de marinheiro
Se o vice-presidente José Alencar decidir mesmo, como parece que decidirá, concorrer ao Senado, o espaço em Minas Gerais fica mais estreito.
Mantida a candidatura de Aécio Neves, em tese as duas cadeiras existentes já estariam praticamente ocupadas, pois ambos, cada qual em seu campo, são tidos como imbatíveis.
Nesse caso, as vagas não poderiam ser negociadas nem para aliados de Lula - Hélio Costa ou os petistas que porventura fossem levados a desistir da candidatura a governador - nem para correligionários de Aécio Neves, mais especificamente Itamar Franco.
Sobraria o lugar de vice. Nas chapas estaduais ou nacionais.
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