E no Cotidiano das ruas...
Política

E no Cotidiano das ruas...



A dança vesperal

Walnize Carvalho

Aproveitando o feriado resolvi ir até Niterói.
Primeira providência: ligar para a neta mais velha e marcar encontro.
Confirmada a ida ao shopping, preparei-me para descer à rua.
Mirei-me no espelho. Escolhi roupa, calçado, bijuteria e cor de batom,pois a menina gosta de me ver arrumada.
Olhei para o relógio. Cinco da tarde. Apressei-me. Desci. Observei que o vento enviesado era prenúncio da tempestade vespertina.
Ao por o pé na calçada ouvi grito de alerta: - Sujou! Olhei à volta. E, como num estalar de dedos, as calçadas da rua central ficaram limpas .
Olhei o céu. Não era a chuva anunciada, que fazia as pessoas se apressarem. A tempestade era outra.
Assim, como pássaros, habitualmente, voam desencontrados ao ouvirem tiros a distância, vindos dos morros da cidade, assim ,os camelôs faziam .Cada qual corria para proteger suas mercadorias ao pressentiram a chegada dos fiscais .
O grito era de um dos vendedores, que alertava seus colegas da presença dos moços fazendo com que todos saíssem em “revoada” .
Carregavam caixas na cabeça, sacolas nos braços, cabide e tabuleiro nos ombros. Deslizavam com carrinhos de feira, por entre carros apressados.Mercadorias variadas que iam desde relógios, canetas ,bijuterias ,bolsas, lenços , maquiagens, dvd’s, pilhas, brinquedos até filhotes de cachorro .
As calçadas ficaram livres. As pessoas recomeçaram a circular. Por uns instantes, fiquei parada. Dei alguns passos e posicionei-me em frente ao Teatro Municipal de Niterói.
Ouvi uma melodia suave vinda do chão, em meio a folhas secas, filipetas de propagandas, pontas de cigarro, papéis de balas, que o corre- corre urbano se incumbe de servir como desculpa para a desatenção e falta de educação dos transeuntes.
Abaixei-me e apanhei o objeto perdido: uma caixinha de música, onde uma bailarina rodopiava... rodopiava...
Segurei-a entre as mãos .Olhei à volta à procura do dono . O camelô já ia longe.
Olhei para o alto.Na fachada do prédio do teatro, um letreiro anunciava :
COMPANHIA DE DANÇA
SÁBADO – 19 HORAS
ÚNICA APRESENTAÇÃO .
Um sorriso melancólico estampou –se em meu rosto .
Acabara de assistir a um balé de todos os dias, a um espetáculo diário de grande metrópole.
Do outro lado da calçada, a neta me avistou.Saltitante veio ao meu encontro.



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