Economistas sugerem controle internacional das finanças
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Economistas sugerem controle internacional das finanças


A atual crise financeira global demonstra que a cultura da especulação chegou ao seu limite e aponta para a urgente necessidade de se criar um novo mecanismo internacional de controle das finanças e fluxos de capital. Essa foi a mensagem transmitida por renomados economistas que participaram do simpósio internacional ?Perspectivas para o Desenvolvimento no Século XXI?, organizado pelo Centro Internacional Celso Furtado e realizado nos dias 6 e 7 de novembro no Rio de Janeiro.

Após mencionar o exemplo da Islândia, país considerado rico, mas que quebrou na atual crise por ter apostado durante os últimos anos na especulação com títulos e derivativos de outros países, o diretor da Divisão de Estratégia e Globalização da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), Heiner Flassbeck, foi taxativo: ?Essa opção global pela especulação produziu fragilidades financeiras numa dimensão muito maior do que jamais havíamos produzido?, disse.

Flassbeck afirmou que, nos últimos anos, a especulação cresceu de forma descontrolada também em relação ao preço dos alimentos e do petróleo e que muitos grupos financeiros cristalizaram o hábito de especular com a taxa de câmbio, atuando contra as moedas nacionais: ?Deveríamos criar um sistema monetário internacional que possa levar as taxas cambiais na direção certa. É preciso adotar uma política internacional que interrompa imediatamente esse processo especulativo com as moedas e as commodities?, disse o diretor da UNCTAD.

Professor da Universidade do Tenessee e do Centro de Análises de Políticas Econômicas da New School of Social Research de Nova York, Paul Davidson lembrou dois ícones do Século XX _ Albert Einstein e John Maynard Keynes _ para analisar a atual crise financeira: ?Os cientistas consideravam o tempo e o espaço como coisas distintas e sem influência mútua, mas Einstein elaborou a Teoria da Relatividade e demonstrou que não. Alguns economistas acreditam que o mercado produtivo e as finanças também são coisas separadas. Keynes, no entanto, já havia alertado que mercado produtivo e finanças interagem continuamente. Esta crise comprova isso?.

Davidson defendeu a criação de ?uma câmara internacional bancária e de controle do câmbio? e, novamente citando a teoria keynesiana, propôs a adoção de um sistema de socialização dos investimentos: ?O mercado financeiro deve proporcionar liquidez para empresas e pessoas, e os bancos centrais de cada país devem controlar o mercado financeiro?, disse o economista norte-americano.

?Riquezas fictícias?

Professor da Fundação Getúlio Vargas, o ex-ministro brasileiro Luiz Carlos Bresser-Pereira sugeriu a criação de Fundos Soberanos nos países em desenvolvimento e também defendeu a adoção de um mecanismo internacional de controle das finanças: ?É necessário criar um órgão que atue como guardião da conta-corrente?, disse.

Bresser fez dura crítica ao pensamento econômico neoliberal: ?A macroeconomia neoclássica é inútil e perigosa, ela é ideológica. A Teoria Econômica Neoclássica é uma meta-ideologia que, em sua forma moderna, legitimou a apropriação do excedente econômico por uma classe de tecnocratas, associados aos capitalistas, que ganham bônus e comissões e mais bônus e comissões em cima desse processo especulativo?, disse. O ex-ministro acrescentou que, nos últimos anos, a especulação ?foi criando uma montanha de créditos e inventando riquezas fictícias?.

Outro que criticou o pensamento econômico dominante foi o italiano Massimo Pivetti, economista e professor da Universidade de Roma: ?Os bancos centrais devem estimular os investimentos e baixar as taxas de juros. Contra a crise, os países precisam aprofundar políticas de distribuição de renda, reforma agrária e fortalecimento do serviço público. Ter um banco central independente e que segue a escola norte-americana é o melhor antídoto contra isso tudo?.

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