Os trabalhadores da EDP criticaram a venda de 21,35 por cento da empresa aos chineses da Three Gorges Corporation "por constituir uma venda prejudicial do património público nacional e violação da obrigação e dever do Estado de defesa da soberania e interesses superiores do nosso país" e também por "sacrificar simultaneamente os direitos dos seus trabalhadores e os direitos dos consumidores portugueses"
Os que tem empregos estáveis numa grande empresa nos tempos que correm são uns trabalhadores privilegiados. Não lhes ocorre que há muitos anos que a "soberania nacional" anda a ser delapidada pela impossibilidade de concorrência das pequenas empresas desprotegidas e abandonadas pela Banca e pela politica do Estado em benefício do crescente monopólio das grandes corporações transnacionais. O resultado é o que se conhece com o actual indice de desemprego. Primeiro levaram uns e eles não disseram nada, depois vieram buscar os outros. Chegou a vez dos privilegiados da EDP, que não são mais especiais que os da Groundforce, da Delphi, da Opel. A crítica é absurda - a EDP tem 7243 trabalhadores em Portugal, mas a EDP a nivel global (no EUA, Canadá, Brasil, UK, Polónia, Roménia e Espanha, dá trabalho a mais 4839 pessoas, a maior fatia no Brasil onde o salário é bem mais baixo e tem potencial de crescimento (a EDP é a 3ª maior do mundo no sector das eólicas). Além do mais as tarifas obcenas que pagamos não são determinadas pela EDP mas pelo mercado detido pelos accionistas. A globalização é isto, (a Salvador Caetano deslocalizou o fabrico de autocarrros para a China) nada mais natural que a empresa Estatal Chinesa Three Gorges pretenda tirar partido das estruturas que estão montadas. Por esse acesso pagam um cheque de 8,7 milhões!
- um valor que os trabalhadores portugueses da EDP não zelaram por angariar, não ousaram controlar administrativamente e impedir que os capitais que representam trabalho português acumulado fossem investidos na exploração de estrangeiros, ao invés de o ser em Portugal, em benefício dos consumidores nacionais, que têm visto as facturas da energia constantemente a aumentar. Para a elite dos trabalhadores alienados pelas ilusórias promessas burguesas, enquanto houve (ou houver) aumentos nos seus rendimentos a titulo individual, está tudo bem, ainda que o dinheiro seja procedente da exploração desenfreada de outros povos. Agora sobressaltam-se com a eventualidade da entrada de outros trabalhadores (no caso os chineses) em clubes até aqui exclusivos, nós todos como trabalhadores na divisão internacionalizada global do trabalho.
"Nós: não é uma posição ou uma essência, uma "coisa" que declarámos ser pública. O comum não é o nosso fundamento, é a nossa invenção incessantemente recomeçada (...) o comum está diante de nós, sempre, é um processo e um devir (...) Retomar o comum, é reconquistar não uma coisa coisa mas um processo constituinte, quer dizer o espaço onde ele se pode dar." (Antonio Negri, dixit)