O Globo - 05/06/2012 |
Havia ilusão, talvez esperança. Quem sabe a "década perdida" duraria apenas a metade? A realidade é que chegamos ao quinto ano da crise (2007-2012) e não há sinal de recuperação rápida. Agora a crise na Europa bate à porta. Mesmo que seja debelada, a incerteza gera um recuo na atividade mundial. Exportações diminuem, investimentos são adiados, e os governos têm de recorrer a mais estímulos para manter suas economias crescendo. O sucesso dos estímulos vai depender da forma como são desenhados e implementados. É preciso estimular, através do incentivo, de preferência no que faz falta. Na China, a ênfase deve ser no consumo maior; no Brasil, em aumentar o investimento. Neste mundo de dificuldades, a Europa caminha para uma recessão este ano (entre -0,5% e -1%), mesmo num cenário em que a crise é debelada. Mas a crise pode ser deflagrada por qualquer faísca solta neste momento. E não faltam faíscas. As eleições na Grécia são uma delas. Os gregos não querem sair do euro, mas também não se dispõem a realizar os ajustes que fazem parte do programa que assinaram. É possível que os outros governos da Europa ainda indiquem alguma flexibilidade no tamanho do ajuste requerido. Mas, dependendo do resultado das eleições, a Grécia pode ver a sua saída do euro desencadeada pela falta de apoio às medidas e pela fuga de recursos do país. A Espanha é outro problema. Precisa pedir ajuda externa para salvar os seus bancos em dificuldade. Ajuda do próprio governo espanhol não serve mais. Os investidores se perguntam: como o governo vai conseguir o dinheiro para ajudar seus bancos? Não virá do bolso dos investidores, pelo que tudo indica. A resolução da crise na zona do euro, em minha opinião, não virá mais de um grande anúncio - um novo plano de reformulação com mais união fiscal e ajuda entre os governos. Mais provável é que a saída venha na hora do aperto, quando o Banco Central Europeu (BCE) for empurrado a monetizar as dívidas e financiar os bancos dos países periféricos para estancar corridas bancárias que venham a ameaçar um ou mais países do euro. Na hora da crise, países centrais como Alemanha e França podem preferir de fato (implicitamente) a flexibilidade extrema do BCE, a monetização e socialização das dívidas, do que aceitar a derrocada do projeto político de união europeia. Como deveriam agir os países de economias emergentes como o Brasil? A China vê sua economia desacelerar devido à demanda menor por suas exportações pelos países afetados pela crise, mas também pelo esgotamento do estímulo à demanda interna através de mais investimentos. Tudo indica que a China continuará estimulando sua economia, mas de forma sustentável ao longo do tempo, e com ênfase crescente no consumo doméstico, dada a sua taxa de poupança elevada. Mais consumo na China, substituindo as suas exportações, é o que desejam chineses e o resto do mundo. No Brasil, ao contrário, o problema não tem sido de consumo. A decomposição do crescimento do primeiro trimestre revela que a melhor estratégia para a frente é concentrar no estímulo à oferta e ao investimento no Brasil. O consumo continua crescendo na economia brasileira (1%). Foi o investimento que caiu 1,8%. Uma parte da queda do investimento tem fatores específicos, como a produção de bens de capital para os segmentos de transporte, que caiu um pouco mais de 20% (o resto subiu cerca de 0,8%), em parte consequência da entrada em vigor de mudança tecnológica (para veículos mais alinhados com a sustentabilidade ambiental). Mas, como ainda há capacidade ociosa na indústria, e as incertezas globais têm aumentado, é natural esperar um processo mais lento de recuperação dos investimentos. Nesse contexto global, são necessários estímulos que de fato incentivem. O Brasil deveria concentrar-se em incentivar o investimento, o caminho mais direto para recuperar o crescimento de forma sustentável. Para isso é necessário oferecer as melhores condições ao investimento, através de segurança (clima de negócios) e retorno adequado ao longo do tempo. |