O Estado de S. Paulo - 29/08/2010 |
A economia americana deve ter crescido apenas 1.6% no segundo trimestre, informou o Departamento do Comercio, neste fim de semana. Ele previa 2,4%. Isso confirma a tendência de forte desaceleração iniciada nos primeiros meses do ano. A reação do governo foi imediata. Anunciou na quinta-feira várias medidas para conter as importações que vêm substituindo a produção interna e roubam empregos no país. Elas vêm aumentando num ritmo anualizado de 28% e o déficit comercial já é de US$ 600 bilhões. O alvo do governo americano é principalmente a China, cujo superávit comercial com os Estados Unidos cresce mês a mês, mas atinge também outros países exportadores, como o Brasil, que já sofre fortes restrições no mercado americano. Neste fim de semana, em Genebra, havia receio de que tais medidas, mesmo compreensíveis, provoquem uma onda de protecionismo, evitada mesmo no auge da crise internacional. Pode ser grave porque até agora o mercado americano, mesmo crescendo menos, absorveu o excesso de produção mundial, o que encurtou a recessão. É mais grave, porque não só eles, mas outros países, reagem à agressividade comercial da China, que protege o mercado mantendo o yuan desvalorizado (com reajustes cambiais controlados), entre medidas que aumentam a competitividade dos seus produtos. Para o Brasil, há dois aspectos contraditórios. De um lado, não pode deixar de apoiar a resistência ao protecionismo chinês, mas de outro reage porque também é atingido pela decisão americana. E ambos - China e Estados Unidos - são nossos principais parceiros comerciais. Ou seja, sofremos as consequências dos dois lados. Ao mesmo tempo, há um crescente movimento para conter a expansão chinesa no mercado interno - como nos EUA, elas deslocam a produção nacional- e adotar medidas protecionistas. E isso mesmo porque o superávit comercial este ano deve se reduzir a no máximo US$ 18 bilhões - vamos ficar satisfeitos se não for déficit. Protecionismo, não. A pressão no Brasil por mais proteção é bem menor. A produção industrial continua sustentada pela expansão do mercado interno. Mas tudo indica que as empresas poderiam investir e crescer mais se voltasse a exportar como no governo passado. O Ministério do Desenvolvimento já tem posição firmada: é contra medidas para conter as importações. O problema não vem de fora, está aqui dentro, diz o secretario do Comércio Exterior, Welber Barral, em resposta às queixas ds Fiesp. Há questões internas que precisam ser solucionadas para reduzir custos. "Tem um problema grave que é o acumulo de créditos não devolvidos aos exportadores", diz ele. Há distorções tributárias, com o ICMS dos Estados. Uma empresa do setor de papel que desistiu de investir US$ 500 milhões por causa do custo do ICMS, estadual. O custo de levar uma tonelada de papel da Europa para a Argentina, é de US$ 40; para levar a mesma tonelada de portos do Paraná para a Argentina, US$ 120, de acordo com dados da empresa. Há ainda o argumento que as importações pesam apenas 17% do total. Miguel Jorge diz que não há números significativos de setores ameaçados pelas compras externas. Mantega argumenta que os preços menores dos produtos importados ajudam a conter a inflação, liberando em parte o BC de elevar os juros. Pelo que vimos neste fim de semana em Washington, o cenário pode mudar. Os EUA, desta vez, não afirmam, mas simplesmente "informam" que começam a impor mais barreiras às importações chinesas, brasileiras, europeias, ou de quem quer que surja por lá com preços menores que os produzidos no país. Têm esquemas próprios para isso. Para nós é importante porque, direta ou indiretamente, as medidas abrangem não só produtos industriais, mas semimanufaturados, agropecuários. Tudo. Os EUA não devem crescer mais de 2% este ano, se tanto, mas precisam de pelo menos 2,5% para impedir que o desemprego aumente e passe de 10% da força de trabalho. Todo o esforço fiscal não foi suficiente para animar o consumidor americano com medo de perder o emprego. Foram mais de 17 milhões na crise. Após um ano sem muito resultado - conteve a crise financeira, mas a economia não reagiu -, só resta a Obama o caminho de conter importações, que roubam empregos, e aumentar as exportações. Foi isso que o governo anunciou agora. E aqui entramos nós. Vamos enfrentar ao mesmo tempo o protecionismo americano e a agressividade chinesa. Quanto menos eles exportarem aos Estados Unidos, mais vão exportar para nós |