Conflitos entre ministros da Agricultura e do Meio Ambiente acompanham o governo Lula desde a posse, em 1º de janeiro de 2003. No período da senadora Marina Silva, o campo de batalha chegou a ser mais amplo, com o envolvimento de Dilma Rousseff, na passagem dela do Ministério de Minas e Energia para a Casa Civil, onde a ministra ganhou mais poderes para zelar por importantes investimentos, entre eles os projetos de hidrelétricas no Rio Madeira, contra as quais a militância ecológica atuante no Ibama se bateu enquanto pôde.
Os choques resultaram na saída de Marina Silva do governo, substituída pelo secretário fluminense do Meio Ambiente Carlos Minc, mais afeito a negociações políticas. Mas, como o terreno é minado, mesmo Minc - que não cabe no figurino da militância verde radical - está em rota de colisão com Reinhold Stephanes, da Agricultura.
A mais recente estocada na refrega foi desferida por Stephanes em entrevista ao GLOBO, na qual se declarou ressentido com o colega pela maneira como os desentendimentos entre as pastas em torno do Código Florestal estariam sendo conduzidos pelo Meio Ambiente.
A explicação para estas e outras escaramuças no primeiro escalão está no modelo de montagem de governo escolhido por Lula, o da balcanização, de loteamento do poder em função de interesses político-partidários e compromissos ideológicos. Assim, os "movimentos sociais" - MST e satélites - estão assentados no Incra e no Ministério do Desenvolvimento Agrário; parte da militância da Igreja Católica, no Desenvolvimento Social; centrais sindicais controlam o Ministério do Trabalho, e assim por diante.
Resulta da balcanização de Brasília que não existe propriamente um governo, mas sultanatos que seguem linhas próprias, enquanto o presidente flutua no alto da popularidade, distante dos conflitos, preservando-se. Em compensação, a máquina burocrática engasga, pouco produz políticas públicas, e, quando o faz, as executa mal.
O Código Florestal, a causa da discórdia entre Reinhold Stephanes, da cota do PMDB, e Minc, é instrumento importante para ordenar a preservação das florestas sem que haja prejuízos para a agricultura moderna, principal responsável, por causa das exportações, pelo fato de o país poder enfrentar uma crise mundial de grande magnitude protegido por US$200 bilhões de reservas.
Enquanto os ministérios brigam como se fossem governos estanques, o tempo passa e as questões ambiental - de relevância estratégica - e agrícola - chave para manter a inflação sob controle e ampliar o peso do país no comércio mundial - vão sendo tratadas ao sabor de lobbies, pressões, barganhas pouco claras.
Caberia ao próprio presidente mediar este e outros conflitos. Ou seja, governar |