O Estado de S. Paulo - 04/10/2011 |
Sentido de urgência, decididamente, não faz parte da estratégia dos dirigentes da área do euro para enfrentar esta crise que ameaça provocar um enfarte na economia global. No último fim de semana de setembro, todas as autoridades importantes do setor de economia e finanças que se reuniram em Washington, para a assembleia do Fundo Monetário Internacional, cobraram pressa dos representantes europeus. Essa também é a mais nova insistência da presidente Dilma. Ela pediu determinação dos políticos não só para encontrar uma solução, mas também para que deixem de lado a excessiva rigidez fiscal nessa hora – uma recomendação feita também insistentemente pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner. Depois de atropelarem mil vezes leis e procedimentos – assim como fizeram com as próprias disposições do Tratado de Maastricht, que proíbem endividamento superior a 60% do PIB –, os líderes europeus se mostram cada vez mais empenhados em não avançar para além do que determinam as regras. Em princípio, a presidente Dilma e o secretário Tim Geithner têm razão ao pregar menos rigidez com a austeridade. No entanto, é preciso entender que não há muito espaço para ampliar as despesas públicas de modo a retomar o consumo e a produção e baixar os atuais níveis atordoantes de desemprego. O principal problema é o endividamento excessivo das economias ricas. Essa situação insuportável é, justamente, consequência de despesas demasiadas. Os Tesouros já estão avariados e não há como expandir ainda mais suas capacidades de endividamento. No mais, a estratégia dos dirigentes europeus é mesmo a de ganhar tempo. Trabalham para esperar até que os Parlamentos europeus aprovem a ampliação do Fundo de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês). Parece também que não lhes convêm fazer omeletes e, obviamente, quebrar os ovos exigidos pela receita antes de 1.º de novembro, quando o atual presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, será substituído pelo italiano, já sacramentado no cargo, Mario Draghi. Além disso, também aparentemente, querem ter prontos os planos de intervenção e de capitalização dos bancos no momento em que o governo da Grécia anunciar o inevitável calote de sua dívida pública em, pelo menos, 50%. Talvez os dirigentes não consigam incutir sentido de urgência aos seus compatriotas por terem ainda de ganhar eleições – normalmente, não vencidas apregoando desastres e futura distribuição da conta da crise. O problema é que o prolongamento da agonia vai custando caro tanto à população do bloco do euro como à do resto do mundo. A ausência de um desfecho suspende decisões de investimento e assinaturas de contratos. E o desemprego vai crescendo. Enquanto isso, o mercado financeiro trabalha com outras necessidades e tem sua própria agenda. As incertezas crescem todos os dias e vão capitalizando aflições. Ninguém sabe como estarão os bancos da Europa e os de outros países ricos, fortemente expostos às dívidas da zona do euro ou às de outros bancos que se tornarão vulneráveis aos calotes. E isso deixa os capitais entocados, pouco disponíveis para financiar a retomada. O que é ruim para todos. CONFIRA Comércio forte. No período de 12 meses terminado em setembro, as exportações do Brasil continuaram mostrando expressivo crescimento: 32,2%. As importações também avançaram com força, no entanto, pouco menos: 27,3%. Meta de juros? Se é verdade que o governo Dilma quer baixar os juros básicos (Selic), hoje nos 12% ao ano, para 9% ao ano em 2012, dá para concluir que ele persegue uma meta de juros. O que pode ser perguntado é se meta de inflação e meta de juros são mutuamente compatíveis. |