Política
Feio quanto parece Thomas L. Friedman
Confesso que quando vi a foto do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o premier turco, Recep Tayyip Erdogan, de braços levantados, depois de assinar o acordo para supostamente desarmar a crise sobre o programa nuclear iraniano, tudo o que pude pensar foi: há algo pior do que assistir a democratas vendendo outros democratas a um criminoso iraniano, que nega o Holocausto e frauda eleições, só para implicar com os EUA e mostrar que eles também podem tomar parte do jogo dos poderosos? Durante anos, países não alinhados e em desenvolvimento acusaram os EUA de satisfazer cinicamente seus interesses, sem levar em conta os direitos humanos, observou Karim Sadjadpour, da Carnegie Endowment. À medida que Turquia e Brasil aspiram a atuar globalmente, vão se defrontar com as mesmas críticas que antes faziam.
A visita de Lula e Erdogan ocorreu dias após o Irã executar cinco prisioneiros políticos. Eles abraçaram Ahmadinejad, mas nada disseram sobre direitos humanos.
Turquia e Brasil são democracias nascentes que superaram suas próprias ditaduras militares. É vergonhoso que seus líderes fortaleçam um presidente que usa o exército para matar democratas iranianos que buscam a mesma liberdade política e de expressão de que turcos e brasileiros hoje desfrutam. Lula é um gigante político, mas moralmente tem sido decepcionante, disse Moisés Naím, editor da revista Foreign Policy. Lula tem apoiado os que frustram a democracia na América Latina, observou. Ele regularmente elogia Hugo Chávez, da Venezuela, e o ditador cubano Fidel Castro e agora Ahmadinejad , enquanto denuncia a Colômbia, uma das histórias democráticas de sucesso, porque o país permitiu que os EUA usem bases locais para combater o narcotráfico. Lula tem sido ótimo para o Brasil, mas terrível para seus vizinhos democráticos, disse Naím. Lula se tornou conhecido como líder dos trabalhadores no Brasil, mas virou as costas a líderes dos trabalhadores duramente reprimidos no Irã.
O Irã tem hoje 2.200 quilos de urânio com baixo teor de enriquecimento. Pelo acordo do dia 17, o país supostamente concordou em enviar 1.200 quilos à Turquia para conversão em combustível para seu reator médico em Teerã que não pode ser usado para uma bomba.
Mas isto ainda deixaria o Irã com cerca de 1.000 quilos, que o país continua se recusando a submeter à inspeção internacional e está livre para continuar a reprocessar aos elevados níveis de enriquecimento requeridos para a bomba. Especialistas afirmam que o Irã levaria seis meses para acumular novamente quantidade suficiente para uma arma nuclear.
Assim, o que esse acordo faz é o que o Irã queria: enfraquecer a coalizão que pressiona o país a abrir suas instalações nucleares aos inspetores da ONU e, como um bônus especial, legitima Ahmadinejad no primeiro aniversário da repressão ordenada por ele contra o movimento democrático iraniano, que pedia uma recontagem dos votos das eleições fraudulentas de 2009.
A meu ver, a Revolução Verde no Irã é o mais importante movimento democrático espontâneo a surgir no Oriente Médio em décadas. Ele foi suprimido mas não desapareceu e, no final das contas, seu sucesso é a única fonte de segurança e estabilidade.
É como me disse Abbas Milani, da Universidade de Stanford: A única solução de longo prazo para o impasse é um regime mais democrático, responsável e transparente em Teerã. Os clérigos iranianos praticam com sucesso um grande jogo de enganação ao fazer da questão nuclear quase o único ponto focal de suas relações com os EUA e o Ocidente. Estes deveriam ter adotado uma política de duas vias: sérias negociações sobre a questão nuclear e não menos sérias discussões sobre direitos humanos e democracia no Irã. Preferiria que o Irã nunca tivesse a bomba. O mundo seria muito mais seguro sem novas armas nucleares, especialmente no Oriente Médio. Mas se o Irã conseguir, fará uma grande diferença se o dedo no gatilho for o de um Irã democrático ou o da atual ditadura religiosa e criminosa. Quem trabalhar para adiar isto e promover a democracia no Irã estará ao lado dos anjos. Quem ajudar esse regime tirânico e der cobertura a sua maldade nuclear um dia terá de prestar contas ao povo iraniano
loading...
-
O Pensamento De Um Brasil Soberano.
Lula rejeita pressão dos EUA sobre visita ao Irã O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta sexta-feira (26), que não tem de prestar contas sobre sua visita ao Irã, prevista para maio, "a não ser ao povo brasileiro". "Não vejo nenhum problema...
-
Editorial - O Estado De SÃo Paulo Entre O Erro E A Omissão
O Estado de S. Paulo - 27/07/2010 A coincidência não poderia ser mais simbólica. Enquanto na vizinhança do Brasil arde a crise deflagrada com o rompimento de relações entre a Venezuela e a Colômbia ? depois de o governo de Bogotá denunciar que...
-
Merval Pereira Olhos Nos Olhos
O GLOBO - 16/05/10 O presidente Lula chega a Teerã para uma missão considerada impossível: tirar do governo teocrático de Mahmoud Ahmadinejad um compromisso formal de que o programa nuclear iraniano é para fins pacíficos, em termos que sejam aceitáveis...
-
''audiência'' Para Ahmadinejad Editorial - O Estado De SÃo Paulo
27/04/2010 O chanceler Celso Amorim concluiu ontem em Teerã, onde foi recebido pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, um breve giro por algumas das capitais onde se desenrola, com enfoques distintos, o contencioso sobre o programa nuclear iraniano,...
-
Editorial De O Globo O Risco Irã
O Globo - 10/02/2010 O Irã recorreu a seu script preferido em se tratando do programa nuclear: num dia se mostrou disposto a enviar urânio para ser enriquecido no exterior — forma imaginada pelo Ocidente para controlar a produção; no outro, anunciou...
Política