Francisco Martins Rodrigues:
Política

Francisco Martins Rodrigues:


"O sistema capitalista não vai evoluir, nem vai desaparecer por si, nem vai entregar o poder, a única perspectiva que existe é o seu derrubamento pela força"

Causou viva perplexidade o aparecimento de um ilustre desconhecido (foi, por exemplo o tradutor de “A Teia” de Harold Pinter) numa caixa de página de entrada do Público de quarta feira dia 7 (ler aqui) – nem mais, Francisco Martins Rodrigues, (um dos intervenientes da famosa fuga de Peniche, cuidadosamente ocultado dos meios de comunicação social durante 40 anos) era entrevistado nada mais nada menos do que sobre uma extenção à critica ao acordo PS-BE na Câmara de Lisboa – antes, no número 110 (Maio/Junho, 2007) da revista “Politica Operária” de que FMR é director, se tinha feito a análise ao congresso de Junho do “Bloco de Esquerda”. Nestes termos:

“A mensagem forte que saiu da convenção do BE, foi a do empenhamento do partido na causa ecológica. Seria uma boa opção se não houvesse outras bandeiras a pedir urgentemente para ser levantadas. O Bloco podia, por exemplo, ter proclamado como sua tarefa central a luta para travar o terrorismo dos EUA. Ou o direito à indignação dos dois milhões de pobres deste país. Ou simplesmente “Sócrates para a Rua!”. Ou o fecho dasd Lages e o regresso das tropas portuguesas do Afeganistão e do Líbano. Ou a resistência popular à Europa do capital. Ou a solidariedade com a Palestina…
Mas não. Escolheu a bandeira do Ambiente como tarefa central do partido. (Um género de consultores de AlGore de trazer cá por casa*). Esta opção, todos o entendem, tem um valor simbólico. É uma mensagem enviada à “sociedade”. Já vimos como, por esse mundo fora, a atracção pelo “ambientalismo” cresce à medida que um partido se afasta dos choques agudos da luta de classes. Compreende-se. Com um respeitável grupo parlamentar, com mais uma batalha autárquica em perspectiva, com um lugar a defender no “Partido da Esquerda Europeia”, o BE não se pode dar ao luxo de apelos à transformação da sociedade. Assume-se como partidos de “causas”, isto é, especializado em propor remendos decorativos sobre as chagas da sociedade. (…) Queremos desde já assinalar que esta convenção marca, provavelmente, a entrada do BE na idade adulta, como partido do sistema, perna esquerda da social-democracia. É bom que o PS comece a olhar com mais atenção para este “irmão mais novo”, com vista a futuros arranjos de governo”.
Escrito em Junho, 2007.Antes das eleições em Lisboa. Premonitório.

FMR foi um dos primeiros dissidentes do PCP (em 1964) mas o sistema obviamente apostou no Reformismo (com Álvaro Cunhal) para vedeta. Demorou esse tempo todo a desarmar a classe operária, mas conseguiram-no. Ao Xico Martins Rodrigues, neste tempo todo, nunca ninguém da CS deu voz no nosso país. A ponto de quase toda a sua obra teórica ser feita a partir do sítio Internet “Primeira Linha” sediado na Galiza. (ver um resumo aqui).
Compreende-se. O regime, principalmente depois de Cavaco, precisa de tentar extirpar a imagem neoconservadora agindo activamente sobre o “imbecil colectivo”. Nada como as agências de comunicação, numa politica bem consertada, começarem a dar voz a opiniões de “extrema esquerda” – com o objectivo bem determinado da extrema direita no Poder parecer que se situa ao Centro. E pelo caminho, a pequena burguesia urbana arranja uns tachos governativos. No final, estamos cada vez mais lixados, porque o espectro alastra.

Cavaco actua a nível da macro-politica global. Essa é a politica que lhe interessa, o big-game dos falcões do Pentágono. Para a politica interna ele olha para as câmaras com aquele ar engasgado de totó que não sabe de nada (mas comprometido QB porque sabe que este PS é a sua melhor arma para a execução das reformas neoliberais – afinal os homens até são socialistas, pensou-se à boca calada enquanto não se descobriu o logro). A esse nível ouça-se outra das vozes de Esquerda, Danielle Bleitrach, dissidente do PCF:
“Em vez de se enfrentar o capital e a direita, espalha-se a ideia de que pudemos preservar o nosso nicho continuando a pilhar o terceiro mundo e a odiar os imigrantes porque nos “vêm roubar o pão”. A deriva para a direita continua e corremos o risco de que aumente. A busca de um homem forte capaz de nos defender poderá levar-nos amanhã a descobrir que ele nos mergulha mais ainda na tempestade da mundialização capitalista, a reboque da loucura assassina dos Estados Unidos. Não podemos ser só anti-liberais, temos de ser anti-capitalistas e anti-imperialistas. Temos que lhes responder ao mesmo nível, saber como responder às deslocalizações, à imigração, à guerra”

(* parentesis da responsabilidade do autor do post)



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