Haddad: São Paulo é uma panela de pressão. Todo dia, aqui, acontece um episódio importante e a versão sobre ele é disputada palmo a palmo.
Política

Haddad: São Paulo é uma panela de pressão. Todo dia, aqui, acontece um episódio importante e a versão sobre ele é disputada palmo a palmo.


O fato é que Haddad revelou-se um desastre na comunicação e no processo decisório neste primeiro, mas acredito que aprendeu estas lições. E a lição é que precisa melhorar a comunicação e ter uma melhor leitura do cenário político de São Paulo. Suas decisões não podem ficar a reboque do governo estadual. E ele não precisa aparecer ao lado do governador nas decisões que interessam ao povo paulistano. Por fim, acredito que Haddad tem mais três anos para fazer o que é necessário para realizar mudanças profundas em São Paulo. 


da Folha
'Não me arrependo', diz Haddad sobre 1º ano na prefeitura
Prefeito de São Paulo diz que medidas como o reajuste do IPTU são necessárias à cidade
ELVIS PEREIRA IVAN FINOTTIDE SÃO PAULO
Acabou a lua de mel entre a população e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, 50. "Falavam que durava um ano. Em 2013, quem foi eleito teve três, quatro meses [de lua de mel]. Foi um ano atípico", diz o petista.
A declaração foi feita em entrevista à Folha na última terça-feira, no edifício Matarazzo, sede da prefeitura.
Durante uma hora, ele comentou os principais momentos do primeiro ano da gestão, como os protestos de junho, o reajuste do IPTU, a vida de gestor da metrópole e a baixa popularidade.
"Você toma uma medida dura, necessária, impopular, e tem de saber as consequências disso", diz ele. "Não me arrependi de nenhuma", diz.
Folha - O sr. está isolado politicamente?
Fernando Haddad - De jeito nenhum. Até porque, se você não tem perfil para viver os altos e baixos da política... Lembro que quando tinha 3% das intenções de voto, as matérias do período eram desoladoras. [Risos] Se toma aquilo como imutável, se a dinâmica política não for algo que você incorpora no teu dia a dia, você realmente joga a toalha. Mas, se entende a política... E o sabor dela é esse, o fato de que ela muda, o fato de que há uma coreografia, que tem a ver com tempo do mandato, da campanha.
Um sabor que agora está um pouco amargo.
[Risos] O sabor da política é a dinâmica, não é a estática. Você toma uma medida dura, necessária, impopular, e tem de saber as consequências. Agora, se você me perguntar se me arrependi de alguma que tomei neste ano, não me arrependi de nenhuma. Todas eram necessárias para equacionar o problema de São Paulo.
A popularidade do senhor caiu, como a da Dilma e a do Alckmin, durante as manifestações. Ambos se recuperaram. O senhor, não. Por quê?
Olha, primeiro o Alckmin caiu menos e recuperou muito pouco, são 3% só de recuperação em seis meses. Acho que não dá para falar em recuperação. Enfim, os governos de Estado têm uma situação mais confortável do ponto de vista político. A população tem muita dificuldade em identificar quais são as responsabilidades do governador. Prefeito paga um preço muito alto, mas é devido, por estar muito próximo do cidadão.
E sua vida pessoal, mudou?
Procurei alterar pouco a minha rotina. Estou mais caseiro? Estou. Mas saio aos fins de semana a pé pelo bairro. Passeio com o meu cachorro normalmente, vou ao parque, à [avenida] Paulista, ao shopping, ao cinema. Procuro ter uma normal. Funciona. As pessoas respeitam. Vou aos restaurantes que frequentava, vou comer um sanduíche. Procuro continuar fazendo as coisas que eu fazia.
Nesta madrugada [de terça-feira passada], havia um grupo de manifestantes em frente à sua casa. Como seus vizinhos reagiram?
Olha, não sei, porque cruzei só com uma pessoa no elevador e ela estava contrariada com o que estava sendo feito na rua. Quando se mistura o público e o privado é muito ruim, né? Temos aqui uma praça pública [ao lado da prefeitura], onde as pessoas podem se manifestar livremente. Tem locais próprios para isso. A partir do momento que começa a afetar não a vida do governante, mas a de vizinhos, familiares, aí é outra coisa que está acontecendo, não é política.
As manifestações de junho ocorreram após o aumento da tarifa de ônibus. O senhor se sente culpado pelo prejuízo político ao PT?
Absolutamente, até porque entendo que a gente não pode só olhar por essa questão do eventual desgaste. Tem de olhar para a frente, verificar o que esse tipo de demanda significa em termos de agenda política, como conseguir financiar, por exemplo, o subsídio à tarifa. Essas questões nunca foram discutidas.
Revogar a tarifa foi uma decisão difícil, a contragosto?
Difícil. Porque sei o que ela representa para a saúde financeira [da cidade]. Uma das razões pelas quais me manifestei contrariamente é o fato de que não estávamos discutindo a fonte de financiamento, só a medida. Isso é um pouco ingênuo demais, imaginar que, tendo um orçamento fechado, você vai conseguir promover uma coisa dessas sem discutir com a sociedade abertamente, de forma transparente, quem financia. Me parece um traço desse movimento que, na minha opinião, pode produzir o efeito contrário ao almejado, que é melhorar a vida da população.
Aumentar o IPTU foi uma forma de compensar o congelamento da tarifa? Gostaria que o sr. comentasse o porquê desse imposto tão alto.
Uma lei aprovada em 2009 pelo PSDB era muito mais alta do que essa. E o PSDB entrou com uma ação de inconstitucionalidade contra essa lei. O PSDB é um partido contraditório. No caso deles, o IPTU chegava a 45%. Prefiro ver a questão como uma questão de Estado. O IPTU é o que mantém a cidade. Ressalto que 50% do IPTU vão para a saúde e para educação e 16% vão para o pagamento de dívidas com a União e com precatórios. Dois terços do IPTU têm destinação certa. Então, esse papo de dizer que por causa da tarifa... Agora, é óbvio que uma parte dos recursos está aumentando para subsidiar a tarifa, para mantê-la em R$ 3.
O senhor comentou que, após as manifestações, resolveu tomar algumas medidas necessárias, que julgava impopulares, como a faixa de ônibus...
Não acho a faixa de ônibus impopular. Segundo o Datafolha, tem 90% de aprovação [88% na única pesquisa, há três meses]. A única coisa que superou a aprovação do Lula foi a faixa de ônibus, segundo o Datafolha.
O que de fato acha que melhorou para a população neste primeiro ano?
Transporte coletivo, sem sombras de dúvida. Melhorou e vai melhorar cada vez mais. Mas ainda estamos com problemas, remanejamento de linhas, ajustes nos corredores, tem muita coisa ainda por ser feita. Mas já noto um certo alívio no que diz respeito ao tempo que as pessoas desperdiçam no deslocamento. Agora, acho que essa coisa nova de 20 pessoas bloquearem a marginal, isso prejudica muito mais o trânsito do que as faixas exclusivas. Muito mais. Quando 20 pessoas param a avenida Paulista, quando 20 pessoas param a marginal, 20 pessoas fecham a garagem de ônibus, isso sim faz com que os congestionamentos cheguem a bater recorde. A faixa exclusiva de ônibus, não.
Qual o tamanho da pressão que o senhor sofre hoje?
São Paulo é uma panela de pressão. Todo dia, aqui, acontece um episódio importante e a versão sobre ele é disputada palmo a palmo.



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