José Arthur Giannotti: "FHC não defende abandono do povão"
Política

José Arthur Giannotti: "FHC não defende abandono do povão"


TERRA MAGAZINE
14 de abril de 2011,

Ana Cláudia Barros

Amigo de Fernando Henrique Cardoso, o filósofo José Arthur Giannotti
sai em defesa do ex-presidente, bombardeado até mesmo por lideranças
do próprio PSDB, após a publicação do artigo "O papel da oposição", na
revista Interesse Nacional. No texto, o tucano recomendou que a
oposição deveria se voltar menos para o "povão" e investir mais na
"nova classe média", desencadeando uma polêmica.

Giannotti refuta a interpretação de que Fernando Henrique teria
proposto o abandono das classes mais pobres e sugere que houve má-fé
na leitura que muitos fizeram do artigo. Dizendo-se "espantado com a
reação da mídia", o professor sustenta que o texto é "uma enorme e
brilhante agenda de como deve se comportar a oposição".

- Neste ponto de vista, focar nas classes médias não significa
abandonar de forma nenhuma o povão, porque eleição se ganha com o
povão. O povão é tão brasileiro quanto qualquer outra classe, mas
significa ter uma estratégia para chegar a todos os brasileiros -
afirma, completando a explicação:

- O artigo diz que para se fazer uma oposição ao governo Lula, não
podemos começar a tentar competir com ele nas benesses do povão,
porque isso o governo Lula tem mais instrumentos e não nos adianta. O
artigo diz que é preciso entrar com uma clarificação das intenções e
dos processos desse assistencialismo. Isso é possível, na medida em
que nós cooptarmos e entrarmos num diálogo com as novas classes
médias, para chegarmos ao povão, mostrando quais seus reais
interesses. Então, não tem nenhum abandono do povão. Isso é má fé,
sim.

Na análise de Giannotti, o momento é de oposição cerrada, com posições
bem delineadas.

- O artigo do Fernando Henrique é muito interessante na medida em que
esclarece que se houver oposição, ela tem que ser oposição. Não pode
ser, de modo nenhum, simplesmente uma adesão com afastamento. O
problema é mais sério, porque a adesão com afastamento deixa que o
governo não pense nas soluções que ele está fazendo. Isto é, a adesão
com afastamento significa simplesmente não questionar e, portanto, não
melhorar a ação governamental. Ora, ninguém está interessado que a
Dilma se estrepe. Estamos interessados que Dilma seja levada a fazer
uma política de democratização do País e de integração do povão na
política nacional através de sua participação, e não da sua compra.

Indagado se a afirmação de que não se pode competir com o governo Lula
"nas benesses do povão" não seria uma forma de jogar a toalha, o
professor rebate e volta a mira para Gilberto Kassab, que recentemente
abandonou o DEM para fundar o PSD, em franco flerte com o governo
Dilma Rousseff (PT).

- Jogar a toalha é o que está fazendo o PSD, é o que estão fazendo
alguns pessedebistas, simplesmente entrando num jogo de serem
cooptados pelo governo. Você faz uma oposição de fantasia para receber
uma benesse qualquer e, na hora de se contrapor politica e
ideologicamente ao lulopetismo não o fazem. A figura desta situação de
ambiguidade, e vamos dizer claramente, desta traição ao Brasil, porque
quem deixa de fazer oposição ou posição esclarecedora é um traidor, é
o Kassab. Quer dizer, vem para confundir - critica.




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