Los hermanos Miriam Leitão
Política

Los hermanos Miriam Leitão


O GLOBO

A América Latina está em recessão, depois de um excelente 2008, exceto para o México, o primeiro a ser afetado pela crise. Mas há fatos piores. Os bastidores da manipulação de preços na Argentina foram revelados; um dos objetivos era tungar os detentores de bônus. A Venezuela enfrenta recessão com inflação subindo. Isso, sem contar a escalada autoritária do presidente Hugo Chávez.

A ex-diretora do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Indec, o IBGE argentino, Graciela Bevacqua, em entrevista ao jornal "La Nacion", falou pela primeira vez, no último final de semana, dois anos depois de ter sido demitida, após uma carreira de 16 anos no instituto.

Ela disse que por trás da sua demissão está claramente a presidente Cristina Kirchner. Inclusive, ouviu isso durante o processo da demissão.

Numa conversa com o secretário do Comércio Interior, Guillermo Moreno, ela ouviu que a mudança no cálculo da inflação tinha que ser feita "pela pátria", que pagava juros aos donos dos bônus, calculados com base nos índices de preços.

"Nós, a pátria, temos que pagar os bônus", disse Moreno depois de criticar as estatísticas brasileiras. Curioso, aqui o IBGE jamais aceitaria tal intromissão e isso nem se colocaria. Felizmente.

O cálculo de uma consultoria, a El Estúdio Bein e Associados, calcula que o governo deixou de pagar US$ 15,6 bilhões aos poupadores desde então.

O chefe do governo, Aníbal Fernandez, nega tudo e diz que um grupo de especialistas escolhidos em três universidades está fazendo a revisão dos índices de preços desde 1999. Mas a confiança já se quebrou. A Argentina hoje tem dificuldades de se financiar, até porque nunca regularizou a situação com os credores internos e externos desde a moratória. E tem recebido empréstimos do Banco de La Nación.

Na Venezuela, a inflação de dois dígitos, entre 30% e 40%, está ficando crônica (confira as projeções no gráfico). Na Argentina, cada consultoria e banco faz seu próprio cálculo de inflação, já que no Indec ninguém confia mais.

Felizmente, o Brasil está no grupo dos países normais da região. No Chile, a inflação caiu fortemente por causa da recessão. Despencou de uma taxa anual de 9,5%, em junho do ano passado, para 1,9%, em junho deste ano, ficando abaixo do centro da meta que é de 3%. O país sentiu fortemente o impacto da retração mundial. Seu PIB caiu 2,1% no primeiro trimestre deste ano e as projeções indicam outro encolhimento de 4% no segundo trimestre. Mas o presidente do Banco Central, Jose de Gregório, fala de recuperação no segundo semestre. O país cortou fortemente os juros e está usando estímulos de recursos poupados durante o período do boom econômico.

O México já cresceu pouco em 2008 (veja no gráfico).

Dada a proximidade com os Estados Unidos e sua dependência comercial, começou a reduzir a atividade econômica no primeiro momento da crise. Este ano, a previsão é de uma queda forte. Numa conversa recente que tive com o presidente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o mexicano Angel Gurría, ele disse que o país já entrou no segundo semestre em recuperação, mas que o numero final do ano será ruim pela queda do primeiro trimestre, que chegou a anualizados 24%. A previsão do FMI é de que o país feche 2009 com queda de 7,3% no PIB.

Comparado com os maiores países da região, o Brasil está melhor do que Argentina e Venezuela porque aqui se sabe a inflação e ela caiu e continua caindo. Difere do México porque tem um comércio internacional mais diversificado.

Mas ao contrário do Chile, não se preparou para este momento. Está gastando, criando esqueletos para o futuro. O dado de PIB do Brasil previsto pelo FMI para 2009 (-1,3%) está abaixo das previsões do mercado mas deve ser revisto para cima.




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