LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS O "Big One" finalmente chegou
Política

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS O "Big One" finalmente chegou



Os preços das commodities já regrediram aos níveis de 2002, eliminando todos os ganhos dos últimos anos


ECONOMISTAS importantes vêm há muito tempo -alguns há mais de oito anos- alertando para uma grande correção na economia norte-americana em razão de seus déficits externos crescentes. Alguns chamaram esse movimento de "The Big One", em homenagem ao grande terremoto previsto para acontecer na região de Los Angeles. Esse abalo sísmico econômico seria a conseqüência de um vigoroso e inevitável aumento na taxa de poupança do consumidor, única forma conhecida para ajustar a conta corrente norte-americana.
Os medos foram crescendo nos últimos anos por causa da verdadeira orgia de crédito ocorrida nos Estados Unidos, que aumentou progressivamente a armadilha financeira. Nesse período, a relação entre o endividamento das famílias e o PIB chegou ao número incrível de 130%. Não por outra razão, o déficit na conta corrente atingiu quase US$ 800 bilhões, cerca de 6% do PIB. Esses números representam o outro lado da moeda da expansão descontrolada do crédito ao consumidor.
Muito embora o "Big One" tenha sido antecipado, sua ocorrência agora não tem nada a ver com as previsões de uns poucos iluminados. Para esses, seria a desconfiança dos mercados e dos investidores em relação ao dólar que provocaria um movimento tectônico na economia norte-americana, a partir do colapso de sua moeda. Entretanto a correção macroeconômica está ocorrendo com o dólar forte e em processo continuado de valorização em relação a todas as moedas do mundo, com exceção do iene japonês. Esqueceram de que a moeda reserva não é facilmente substituível, especialmente em um mundo em recessão.
Mas o que interessa ao analista econômico de hoje não são as causas desse movimento, mas suas conseqüências sobre a economia global. E elas serão dramáticas nos próximos anos. Segundo algumas avaliações, o processo de correção do comportamento do consumidor americano só deve se estabilizar quando a taxa de poupança chegar a algo como 7% do PIB. A velocidade desse ajuste dependerá das condições do crédito bancário ao longo dos próximos meses. Até o novo equilíbrio, a redução dos gastos dos americanos deverá subtrair cerca de 4% do crescimento da maior economia do mundo.
Isso implica dizer que os Estados Unidos devem crescer a taxas menores do que 1% ao ano, se esse processo se realizar ao longo dos próximos três anos. Se ele ocorrer em prazo mais curto, devido à recuperação mais lenta do crédito, a recessão pode se espalhar por 2009 e por um bom pedaço de 2010. A política fiscal também será um elemento importante para definir o perfil do ajuste.
Essa nova dinâmica dos Estados Unidos terá repercussão muito importante no mundo emergente e principalmente no Brasil. No cenário de uma recessão mais prolongada, os preços das commodities devem permanecer deprimidos, reduzindo os termos de troca de nossa economia. Os preços das commodities já regrediram aos níveis de 2002, eliminando todos os ganhos dos últimos anos. Em outras palavras, ficamos mais pobres e perdemos a possibilidade de continuar importando bens industriais de consumo e investimentos na intensidade atual.
Essa nova situação nos obriga a repensar nossa política econômica e a deixar a euforia dos últimos anos para trás. No terceiro trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu cerca de 6% em termos anualizados. Temos de nos preparar para números bem mais baixos para os próximos anos.



loading...

- O último Medo Do Ano - Luiz Carlos MendonÇa De Barros
FOLHA DE SP - 16/11 O abismo fiscal nos EUA está provocando a queda acentuada dos preços das ações no mundo todo Nos últimos 30 dias, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York caiu mais de 6%. O Ibovespa perdeu, neste mesmo período, mais de 5,5%...

- As Causas Estruturais Do Real Forte Luiz Carlos MendonÇa De Barros
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/06/11 Entrada maciça de capitais e valorização de produtos primários no exterior estão entre as causas do real forte UMA DAS QUESTÕES mais relevantes no debate econômico atual tem sido a força do real nos mercados de...

- Luiz Carlos Mendonça De Barros Decifrando O Enigma Da Crise
 FOLHA DE S. PAULO Se o atual padrão de ajuste de custos se mantiver, teremos um mercado mais forte e um menor nível de pessimismo OS PRIMEIROS resultados da atividade econômica global na primeira metade de 2009 começam a ser divulgados. Ontem,...

- Agora Podemos Olhar Para A Economia Luiz Carlos Mendonça De Barros
VALOR ECONÔMICO A divulgação dos resultados do "teste de stress" aplicado pelo governo Obama nos principais bancos americanos marca o fim de um capítulo importante da crise econômica que vivemos. O pânico que atingiu os mercados financeiros após...

- A Metástase Chega Ao Comércio Internacional Luiz Carlos Mendonça De Barros
Uma boa imagem para explicar a evolução da crise econômica que atinge o mundo é a da metástase. O crescimento mundial foi extraordinário nos três anos anteriores a junho de 2007, quando a crise do chamado subprime estourou, atingindo o pico de...



Política








.