LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Um horizonte mais claro
Política

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Um horizonte mais claro



Nos próximos meses teremos uma idéia mais clara dos efeitos da redução do crédito sobre a atividade econômica


O MOMENTO mais grave da crise financeira que tomou conta do mundo pode ter sido alcançado na primeira quinzena deste mês. Os mercados chegaram à beira de um colapso em todos os seus segmentos, na medida em que ocorria uma verdadeira corrida pela compra da moeda norte-americana. Naqueles dias turbulentos e irracionais, a crise passou a adicionar um componente novo via mercados de câmbio e da dívida soberana nas economias emergentes como o Brasil.
O mercado, que vivia as tensões decorrentes da queda das Bolsas mundiais e da paralisia dos mercados de crédito no Primeiro Mundo, sofreu um novo abalo com a queda das cotações das moedas em relação ao dólar. A crise de liquidez nos mercados financeiros ganhou novas cores devido à grande movimentação de recursos em direção ao mercado de títulos públicos americano. Nós, no Brasil, sentimos esse movimento de forma clara, e o medo da inflação voltou a rondar nosso inconsciente.
Alguns países chegaram, inclusive, a aumentar os juros internos na vã tentativa de estabilizar a taxa de câmbio. Felizmente, a maioria dos bancos centrais no mundo emergente manteve a calma, trancou os dentes e deixou a questão da inflação para ser enfrentada depois. Até porque, a contração interna de crédito por conta da grande insegurança nos mercados seria suficiente para reduzir a demanda interna e evitar a espiral de preços. Rapidamente os líderes da grande cruzada internacional contra a depressão econômica identificaram esse novo front e tomaram medidas agressivas para enfrentar o novo desafio. O FMI (Fundo Monetário Internacional) criou linhas de financiamento emergencial para as nações mais ameaçadas, e o Fed (o banco central dos Estados Unidos) estendeu para alguns países suas operações de "swap" de dólar. São medidas corretas e eficientes para enfrentar esse novo foco de turbulência em um mundo já abalado por uma crise financeira de proporções gigantescas.
O Brasil recebeu o apoio de US$ 30 bilhões em um momento em que o Banco Central conduzia de forma agressiva suas operações para acalmar um mercado à beira de um ataque de nervos. Quando escrevo esta coluna, são claros os sinais de que a taxa de câmbio do real contra o dólar pode estar se estabilizando na faixa de R$ 2 e alguns centavos. Esse nível me parece adequado para enfrentar a queda das cotações de nossos principais produtos de exportação sem causar danos definitivos ao controle da inflação. Certamente, a inflação vai ficar acima do centro da meta em 2009, sem, entretanto, superar o intervalo de segurança. O Copom (Comitê de Política Monetária) foi perfeito ao decidir manter em 13,75% ao ano a taxa Selic em sua reunião desta semana e, principalmente, ao evitar declarações agressivas no sentido de poder voltar a subir os juros em futuro próximo. O mercado tem um grande respeito por nossa autoridade monetária e o Banco Central não precisa desse tipo de reforço, que apenas revela insegurança. Nos próximos meses teremos uma idéia mais clara dos efeitos da redução do crédito bancário sobre a atividade econômica. Até lá, vai haver um choque entre índices de inflação mais elevados e números bem mais modestos sobre consumo e investimento.
Será preciso sangue-frio e convicções sólidas para enfrentar esse período. Certamente não faltarão falcões a pedir o aumento dos juros e a pregar dias terríveis no campo da inflação. Mas a cautela do Copom me parece a melhor posição para enfrentar os próximos meses.



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