FOLHA DE SP - 07/11/11
Como ficam as alunas da USP violentadas? Devem pedir ajuda para o fantasma de Foucault?
Você se lembra do desenho “Capitão Planeta”? Nele um grupo de jovens de várias etnias (brancos, negros, amarelos, vermelhos, enfim, todas as “cores do arco-íris”) defendia o planeta.
Acho que “Capitão Planeta” deveria ser o patrono dos “novos jovens” que invadiram Wall Street , o Viaduto do Chá e a USP. Estes, então, são ridículos, se acham acima da lei e não querem polícia no campus. Como ficam as alunas violentadas? Devem pedir ajuda para o fantasma de Foucault?
Muito professor-cheerleader é culpado por isso quando fala de “jovens que lutam por um mundo melhor”.
Este “mundo melhor” é o que eles têm na cabeça e que implica sempre eliminar quem não concorda com eles (o movimento estudantil sempre foi extremamente autoritário).
E não existe “o jovem”, jovens são múltiplos e muitos não concordam com os baderneiros que invadiram a Faculdade de Filosofia da USP.
Quando você tem 12 anos, um desenho como esse “emociona”. Depois dos 18 anos, se você ainda acredita “no mundo do Capitão Planeta”, é porque não fez os passos naturais do amadurecimento mental.
A diferença entre eles e a última geração revolucionária de fato (Fidel Castro e Che Guevara) é que enquanto “los hermanos” de Cuba, enfrentaram inimigos à bala, essa moçadinha, que acha que “todas as diferenças podem conviver lado a lado” (até a primeira briga de ciúme entre dois caras pela menina mais gostosa do grupo, aliás, coisa rara nesse meio), ao primeiro tiro correria para casa para brincar com o seu iPad.
A mídia ideológica, cansada do marasmo desde maio de 1968 (aquela “revolução francesa” dos estudantes entediados que acabou numa noite gostosa de queijos e vinhos), abraçou esses “movimentos” como um novo “partido mundial dos jovens”.
Engraçado como gente (os “jovens”) que não paga suas contas (papai as paga ou alguma instituição) acha que pode “resolver” o mundo.
Para provar a piada, basta lembrar que Wall Street é um reduto do Partido Democrata americano, logo, do Obama, o “Messias avatar” dessa moçada, fato que a maioria desses “invasores” do templo capitalista não sabe.
Esta “invasão” de Wall Street foi uma modinha das grandes cidades da costa americana, assim como seus desfiles de moda, seus chefs de cozinha étnica e seu gosto por clássicos da literatura somali, sem os quais o mundo não seria a mesma coisa…
A “invasão” marca o descontentamento de desempregados e a irritação com os ganhos dos bancos nos últimos anos em meio à crise.
No caso dos EUA, ninguém deu ouvidos a eles na “América profunda”. A mídia tentou fazer deles representantes da América porque a maior parte da mídia é “Capitão Planeta”.
Um objeto fetiche desses caras é a Primavera Árabe. Assim como o restante desses movimentos dos últimos meses, todos diferentes entre si, o árabe pode ter diferenças importantes internas ao próprio mundo árabe.
Peguemos a “secular” Tunísia como exemplo. Berço da “Primavera Árabe”, conforme muitos previram, ela deu a primeira vitória das urnas a um partido islâmico (como queríamos demonstrar… Aliás, ao contrário do que a geração de intelectuais “Capitão Planeta” dizia sobre “não haver risco de os islamitas ganharem as eleições”). Islamita é o nome técnico para fundamentalismo islâmico político e/ou “militar”.
Apesar de o partido em questão, Nahda, jurar que abandonará suas propostas fundamentalistas (ele era ilegal durante a ditadura “secular” da Tunísia justamente por ser fanático), veremos se suas juras serão verdadeiras.
Especialistas esperam que esses islamitas, quando chegarem ao poder, usem como modelo o partido islâmico moderado da Turquia.
Na Turquia, índices como a presença de mulheres nos quadros funcionais do governo diminuíram significativamente nos anos em que o islamismo moderado turco tem estado no poder. Isso significa uma “islamização” da máquina administrativa. Islamitas tratam as mulheres como animais de estimação.
Ocidentais que não conhecem o Oriente Médio pensam que a maioria da população lá é do tipo “paz, amor e viva a diferença”. Pura ignorância.