Luiz Garcia - Uighures nos EUA
Política

Luiz Garcia - Uighures nos EUA


Posso apostar que você não sabe o que é um uighur. Lamentável. Mas tome nota: 17 cidadãos dessa minoria muçulmana acabam de ganhar uma parada dura contra George Bush.

Nada que deva ter qualquer influência nas eleições, mas com certeza uma derrota notável para a idéia de que a guerra do atual governo americano contra o terrorismo internacional é tão correta e urgente que justifica estratégias e métodos pouco ou nada democráticos.

Os uighures foram presos por americanos em 2001, no Afeganistão, onde se tinham refugiado fugindo de perseguições na China. Acusados de terrorismo, foram bater na base americana de Guantánamo, em Cuba, e lá estão até hoje. Há anos advogados acionados por grupos defensores dos direitos civis têm procurado libertálos. Acabam de conseguir uma vitória que pode ser modestamente apelidada de histórica.

Um juiz federal, Ricardo Urbina, mandou que fossem soltos e levados para o continente. Bastou para convencêlo o fato singelo de que as autoridades não conseguiram provar que tenham praticado ou planejado qualquer ato terrorista contra os EUA. Se a Casa Branca não conseguir derrubar o habeas corpus, o grupo acabará conseguindo cidadania americana.

Está certo que o futuro de 17 uighures, por maior que tenha sido a injustiça que sofreram, não nos interessa profundamente. Perdão, uighures.

Mas tem bastante importância que esteja indo por terra nos tribunais americanos a teoria do governo Bush de que a guerra ao terrorismo justifica violações das liberdades democráticas — como acontece em Guantánamo.

Um número não revelado de suspeitos de terrorismo, de diversas nacionalidades, está lá há anos, sem julgamento.

Provavelmente muitos são realmente culpados, mas o governo americano não consegue provas ou confissões que justifiquem levá-los aos tribunais. E já foram comprovados — com filmes e fotos — maus-tratos incompatíveis com as tradições democráticas dos EUA.

Enfim, a pior conseqüência da situação em Guantánamo é a desmoralização da própria guerra ao terrorismo.

Há pouco tempo, o governo chegou a admitir que não podia provar que os uighures eram “combatentes inimigos”, definição oficial dos presos em Guantánamo. E se dispôs a mandá-los para qualquer país que os aceitasse. Só conseguiu exportar cinco, e para a Albânia — que talvez não seja o nirvana de qualquer uighur sensato.

O caso é episódio menor na guerra contra o terrorismo.

Mas se inscreve no rol dos atos de incompetência e desrespeito a princípios democráticos elementares cometidos pelo governo Bush nesse conflito — para alegria dos terroristas e seus simpatizantes no mundo todo.

É bastante provável que o tema dos uighures não tenha —ou não precise ter, na opinião dos estrategistas de Barack Obama — peso suficiente para ser usado na campanha eleitoral.

Mas sempre serve para mostrar como é cada vez mais necessária, para o bem dos EUA, a prevalência de novas idéias e novos princípios morais na Casa Branca.



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