O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta terça-feira (26), o financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais, e afirmou que o financiamento por empresas privadas deve ser considerado um “crime inafiançável”. A declaração foi feita ao discursar durante o evento “Novos Desafios da Sociedade”, promovido pelo jornal Valor Econômico, em São Paulo, com a presença do ex-presidente espanhol Felipe González. "Nós precisamos de uma reforma política. Eu sou defensor do financiamento público de campanha como forma de moralizar a política. E mais ainda, eu acho que não só se deveria aprovar o financiamento público de campanha como tornar crime inafiançável o financiamento privado", defendeu o ex-presidente.
Para Lula, a dificuldade em aprovar a reforma política deve-se, segundo ele, aos que estão no Congresso Nacional que querem manter o status quo. Bandeira histórica do Partido dos Trabalhadores, a fidelidade partidária também foi destacada como necessária ao fortalecimento dos partidos políticos. "Partido tem de ser representativo de uma parte da sociedade", acrescentou ao criticar as legendas de aluguel "por vender espaço na TV e negociar no Congresso".
Lula afirmou que a democracia no Brasil ainda é muito recente e disse que sua eleição foi “um avanço” democrático no País. O ex-presidente defendeu também a alternância de poder entre diferentes grupos políticos e sociais e disse que os governantes não deveriam gastar tempo criticando seus antecessores. “Cada político tem que perceber que mandato é um produto perecível, com data para começar e acabar. Não tem tempo para ficar discutindo, culpando o governante anterior. Ou você faz ou não faz”, disse.
Crise zona do euro
Ao comentar a crise financeira mundial, Lula afirmou criticou a falta de competência das lideranças políticas na União Europeia para enfrentar a crise econômica e disse que os dirigentes europeus estão “aquém das necessidades” para tomar decisões que enfrentem os problemas econômicos. “O sistema financeiro assumiu um papel tão importante por ausência de regulação política. É coisa gravíssima e não está acertada ainda”, disse.
Na avaliação do ex-presidente brasileiro, faltam decisões políticas para a superação da crise. “Político precisa existir para resolver crise. Há problemas políticos para serem resolvidos. É preciso equilibrar poder de decisão política na União Europeia. Tudo está subordinado às eleições”, afirmou o ex-presidente. “É um erro porque quanto mais fraco eu escolher, mais fraco eu serei. Faltaram decisões políticas no momento certo”, afirmou. “É um pacto pela mediocridade”, disse sobre a escolha de representantes da União Europeia.
Para Lula, a solução para a crise econômica na Europa é ter mais crescimento econômico, geração de emprego e renda. “Não haverá solução para a crise se não voltar a consumir e a produzir”. Acrescentou ainda que os países em desenvolvimento podem suprir parte do consumo dos produtos fabricados na Europa, para ajudar na superação da crise.
Em 2009, quando a crise global estourou, houve uma bolha especulativa, com excessiva expansão do crédito e aumento acelerado dos preços dos imóveis, os dois se reforçando mutuamente, aumentando o risco de uma crise de liquidez.
Na época, o governo brasileiro, sob comando de Lula, manteve a política de aumento real do salário mínimo e os investimentos públicos, além de adotar medidas de desoneração tributária para o setor automotivo, bens de consumo duráveis, material de construção, bens de capital, móveis e alguns alimentos para sustentar o investimento privado. As políticas de transferência de renda para as famílias mais pobres também se mantiveram em curso. O governo ainda reduziu o compulsório bancário e utilizou os grandes bancos públicos para recuperar o crédito no País. Esse conjunto de ações estimulou a economia interna, mantendo e a aumentando a produção, as vendas e os empregos, sustentando o crescimento econômico e fez a crise chegar ao Brasil como uma “marolinha”, como disse o próprio ex-presidente.
ONU
No evento, o ex-presidente declarou que a Organização das Nações Unidas (ONU) não representa mais o mundo do século XXI. Além disso, criticou a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) e disse que essas instituições não funcionam mais e que não há um centro de decisões no mundo atual. “Não conheço um presidente que não esteja de acordo, mas não tem ninguém disposto a mudar”, completou Lula, reforçando a necessidade de o mundo ter um governança global.
O ex-presidente ainda ironizou o FMI e disse que a instituição “não existe” na crise europeia e americana. “O FMI só apareceu para mostrar que está sem dinheiro”, afirmou. “A ONU não funciona corretamente, o FMI não tem a representatividade que deveria ter e a OMC também não funciona, porque foi terceirizada”, declarou no seminário.
Com informações do Valor online
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